Salud España , Salamanca, Jueves, 04 de marzo de 2010 a las 18:21

“O desafio da pesquisa do HIV já não é que os pacientes tenham qualidade de vida, mas curá-los”

O coordenador da Rede Espanhola de Pesquisa da AIDS, José Alcamí, expõe em Salamanca as novas estratégias de erradicação da doença

José Pichel Andrés/DICYT O coordenador da Rede Espanhola de Pesquisa da AIDS (RIS, em espanhol) e diretor do Laboratório de Imunopatologia da AIDS do Instituto Carlos III de Madri, José Alcamí, explicou hoje em Salamanca as novas estratégicas de erradicação da AIDS. Até agora, a grande conquista dos cientistas foi converter a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS, em inglês), causada pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), em uma doença crônica. Uma vez conseguido, as linhas de pesquisa apontam a objetivos mais ambiciosos: conseguir que o vírus desapareça, de modo que se possa falar em uma verdadeira cura.

 

“Desde que o vírus da AIDS foi descoberto até agora, a infecção se transformou em uma doença crônica, isso é, um paciente que toma a medicação de forma correta sobrevive praticamente da mesma maneira que uma pessoa que não está infectada pelo HIV. Isso foi uma grande conquista da pesquisa e da Ciência em todos esses anos, mas o problema é que essa medicação é para toda a vida, porque não conseguimos curar em sentido médico, erradicar o vírus”, explicou o especialista em declarações tomadas pelo DiCYT.

 

O HIV, graças às estratégias utilizadas pelo vírus, é capaz de permanecer “escondido” em umas poucas células que resistem ao tratamento. Assim, ainda que o paciente receba um tratamento eficaz ao longo de uma década, “em 15 dias o vírus ressurge nos mesmos níveis do começo da infecção”. Isso quer dizer que um paciente deve tomar a medicação sempre. “O desafio atual não é que os pacientes tenham uma boa qualidade e quantidade de vida, mas curá-los, isso é, que em algum momento se possa retirar-lhes a medicação, como ocorre com qualquer antibiótico”, assegura Alcamí, que foi o protagonista da jornada de hoje do VII Congresso da Sociedade Espanhola de Medicina Tropical e Saúde Internacional (Semtsi), ao oferecer a conferência plenária do dia.

 

Expulsar o vírus dos reservatórios

 

O objetivo científico é complicado, porque o vírus se aloja em umas células a que os cientistas denominam reservatórios e, desse modo, é muito complicado vencê-lo. “Há uma série de estratégicas para tentar erradicar esses reservatórios, uma delas, a mais pesquisada, consiste em expulsar o vírus”, comenta. Para ele, o objetivo é ativar essas células para obrigar o vírus a abandoná-las. Em um símile bélico, “expulsar aos guerrilheiros escondidos e atacá-los com os remédios que já possuímos, o que chamamos reativar e destruir”. Definitivamente, se os pesquisadores conseguem um medicamento capaz de ativar todos os vírus adormecidos ou escondidos, poder-se-ia destruí-los. Embora esta linha de estudo ainda não tenha sido levada à pesquisa clínica, o especialista confia que nos próximos cinco anos algum experimento será realizado com pacientes.

 

À margem desta possível abordagem, nos últimos anos a pesquisa básica em torno ao HIV ofereceu algumas chaves que podem ser importantes para a luta contra a AIDS. No entanto, “uma coisa é saber qual é o calcanhar de Aquiles do vírus e outra é alcançá-lo”. Por exemplo, no caso do desenvolvimento de uma possível vacina, descobriu-se uma zona do vírus que poderia ser bloqueada por anticorpos, mas “agora o problema é fabricar estes anticorpos”, assegura. Isso é, “o objetivo é construir a flecha que alcance esse alvo”. Em todo caso, “tudo que envolva conhecer esses pontos fracos é importante, porque do contrário atuaríamos de uma forma muito cega”.

 

Reduzir o número de comprimidos

 

Enquanto as novas estratégicas de erradicação do HIV são apresentadas, muitos pesquisadores continuam se dedicando a melhorar os tratamentos atuais. Há não mais de 10 anos era necessário tomar uns 20 comprimidos por dia com horários muito variados, mas “atualmente estamos nos aproximando ao ideal, que é como o tratamento da hipertensão arterial, apenas um comprimido ao dia, antes de dormir e ao acordar. Estamos próximos e já existem tratamentos que combinam em uma única cápsula três medicamentos”, indica Alcamí.

 

Mesmo assim, a dificuldade do tratamento já não é o número de comprimidos, mas o fato de que é para toda a vida e que tem um “período de perdão” muito curto. O conceito de período de perdão refere-se ao tempo que o paciente pode ficar sem tomar a medicação, sem que ocorram conseqüências negativas, assim “se um paciente se trata para hipertensão e se esquece de tomar o remédio um ou dois dias, nada acontece, mas no caso do HIV, o vírus ressurge em 24 horas e volta e destruir células”. De fato, somente deixar de tomar um dos remédios pode tornar o vírus resistente a algum dos outros. Apesar das dificuldades, o índice de cumprimento dos tratamentos está acima de 90%, sobretudo para os que atingiram uma fase grave da doença.

 

Cerca de 20.000 portadores sem saber

 

Segundo dados proporcionados por Alcamí, na Espanha podem existir umas 20.000 pessoas infectadas pelo HIV sem saber, já que durante alguns anos podem levar uma vida normal, e isso contribui para a propagação do vírus, já que uma pessoa tratada reduz muito as possibilidades de contagiar outra. Por isso estima-se que das 3.000 pessoas contagiadas por ano, grande parte contrai o vírus de outra pessoa que desconhece estar contaminada. Em todo caso, não se podem realizar testes generalizados à população, já que o ato de fazer um exame constitui uma liberdade individual, recorda o especialista.

 

O avanço da investigação básica na Espanha

 

“Espanha está bem posicionada na pesquisa clínica do HIV há 20 anos”, revela Alcamí. No entanto, “a pesquisa básica foi deficitária até uma década atrás, mas neste momento o nível subiu muito e agora nós espanhóis somos conhecidos e reconhecidos pelos grupos mundiais, não temos a potência de Estados Unidos, nem a tradição de França em investimentos, mas nos últimos 10 anos os investimentos e a massa crítica de pesquisadores aumentaram muito”, assegura. A criação de uma fundação, a rede de investigação que reúne 36 centros e a constituição de uma sociedade científica, dinamizou a pesquisa da AIDS no país ao ponto em que os cientistas espanhóis deste campo já possuem grande presença nos congressos e revistas internacionais.