Universidade de Burgos pesquisa exploração de águas subterrâneas
José Pichel Andrés/DICYT O Grupo de Ciência e Tecnologia do Meio Ambiente (CITEMA), da Universidade de Burgos, pesquisa as possibilidades oferecidas pelas águas subterrâneas, um recurso pouco utilizado na Espanha (diferentemente de outros países) e que poderia ser fundamental em um futuro próximo frente às alterações no clima que os cientistas prevêem como conseqüência do aquecimento global. Os aqüíferos poderiam ser explorados e utilizados para armazenar água da superfície. Qualquer possibilidade requer pesquisas prévias.
Desse modo, a equipe coordenada por Luis Antonio Marcos Naveira estima que, em uma região com os recursos e a população atual de Castela e Leão, as águas subterrâneas poderiam substituir totalmente a dos rios como fonte de abastecimento, caso necessário, inclusive de forma contínua em condições adequadas de exploração, ainda que “o ideal seria um uso conjunto das águas superficiais e das existentes no subsolo”, afirma em declarações a DiCYT.
O pesquisador afirma que as previsões indicam uma redução das precipitações entre 15% e 20% até o final do século XXI. Não se trata de um déficit grave, mas o problema fundamental será sua regularidade, porque haverá um número maior de episódios extremos, como períodos de seca e inundações. Portanto, “parece razoável”, afirma o especialista, usar os aqüíferos como reserva que regule o consumo para depender menos das instabilidades meteorológicas.
“Se existe um excesso de água no inverno, não a podemos armazenar, mas podemos utilizá-la para recarregar os aqüíferos”, afirma Luis Marcos. Isso é, os aqüíferos podem atuar como “represas subterrâneas”, mas com uma importante vantagem sobre as represas dos rios: a água sob a terra não evapora.
Assim, uma das linhas de pesquisa motivadas pelo grupo CITEMA, em colaboração com a empresa pública Tragsa, tem como objetivo estudar o impacto que teria no meio geológico o armazenamento da água procedente do exterior. Pergunta-se, no entanto, se poderia afetar a qualidade ou a composição das águas.
Do ponto de vista da tecnologia, o armazenamento seria factível, já que seria possível canalizar as águas através de redes de encanamentos, usando uma tecnologia barata e de pouco impacto ambiental, comparada com as represas dos rios.
Em todos casos, estimar o impacto desta iniciativa a grande escala é um dos objetivo do projeto da Universidade de Burgos. Dentre os trabalhos do grupo de pesquisa está o de medir os níveis dos aqüíferos e coletar amostras de água para controlar a qualidade e, a partir de então, desenvolver modelos.
Sustentável
Pensando no futuro, explorar os aqüíferos, abastecendo-os com água do exterior ou não, seria sustentável “se retiramos menor ou igual quantidade de água do que a que entra”. No ciclo da água, uma parte acaba nos aqüíferos, por isso os cientistas pensam que, ao menos em Castela e Leão, não haveria problemas em relação à quantidade de água que se poderia obter, mas sim em relação à qualidade, já que a contaminação por arsênico e a produzida pelo pesticidas ou fertilizantes procedentes da agricultura, bem como a contaminação industrial, fazem com que muitas águas não sejam aptas para o consumo.
No entanto, poderia ser aproveitada para irrigação e para manter ecossistemas. De fato, o CITEMA está identificando pântanos secos ou destruídos que poderiam ser recuperados. Do mesmo modo, os aqüíferos teriam um uso urbano, por exemplo, na limpeza das ruas, já que algumas cidades, dentre elas Burgos, estão construídas sobre grandes quantidades de águas subterrâneas.
“Cada água tem seu documento de identidade”
Analisando a composição, os cientistas sabem que “cada água tem seu documento de identidade” por vários fatores químicos, geológicos e biológicos. Ademais, as condições geoquímicas das terras que as rodeiam propiciam uma biodiversidade diferente, tanto do ponto de vista vegetal, quanto animal. Por exemplo, o complexo kárstico de Ojo Guareña “alberga espécies de invertebrados que somente existem ali”, comenta o pesquisador.
Esse documento de identidade de cada amostra também inclui a idade das águas, isso é, o tempo que o líquido permaneceu no aqüífero. “Quando infiltrado, muda sua natureza química”, afirma o especialista. As análises demonstram a relação da água com os minerais que as rodeiam, de modo que esta informação pode servir, inclusive, para localizar jazidas minerais.
Enfim, os aqüíferos podem ser estudados de muitas perspectivas, e a informação que oferecem é útil de vários pontos de vista. Assim, os cientistas de Burgos a coletam usando técnicas de informação geográfica (SIG) e ferramentas geoestatísticas.