Nutrition Spain , Soria, Monday, September 10 of 2012, 16:17

Projeto pretende recuperar a população de “borboletas formigueiras” em Abejar

Trata-se de espécies ameaçadas pelo abandono dos usos tradicionais do solo e sobre-exploração pecuária

Cristina G. Pedraz/DICYT O abandono de usos tradicionais do solo e a sobre-exploração pecuária que vivem atualmente alguns pastos são as principais ameaças das borboletas do gênero Phengaris, as conhecidas comumente como “borboletas formigueiras” por seu singular ciclo de vida. No ambiente da localidade de Soriana de Abejar convivem atualmente, sob a grave ameaça da alteração de seu habitat, três espécies deste gênero: Phengaris nausithous, Phengaris arion y Phengaris alcon. Assim, a Prefeitura de Abejar, a Câmera Local Agrária, a Associação Zerynthia para a conservação das borboletas e a Associação Monte Modelo Urbión iniciaram um projeto que pretende proteger este singular gênero de borboletas, especificadas em sua grande maioria como ameaçadas em toda Europa.

 

Como explica a DiCYT Yerai Monasterio, presidente da Associação Zerynthia, trata-se “de três espécies muito sensíveis à alteração do habitat, já que alguns pastos foram abandonados e outros estão sendo explorados muito além do que poderiam suportar”, enfatiza. Este aspecto limita a reprodução destas peculiares borboletas. “As lagartas das borboletas se alimentam normalmente de plantas, cada espécie de uma planta ou grupo de plantas concretas. No caso destas espécies, as lagartas vivem suas primeiras fases comendo plantas, mas depois passam a viver dentro de formigueiros e são as formigas que as alimentam”, detalha.

 

Assim, “dependem de condições mais complexas do que o normal, de que a grama tenha um comprimento determinado para que essas formigas possam viver”. Este comprimento, continua, é proporcionado “pela pecuária extensiva ou pelo uso tradicional de colheita adequado”. “Se o pasto é abandonado, a grama cresce muito e essa sombra impede a existência de formigas da espécie adequada, ou se é introduzido muito gado, como acontece agora na área de Abejar, também se impossibilita o crescimento da planta”, afirma.

 

O projeto iniciado por estas entidades consiste em um acordo de Custódia do Território. Estes convênios representam um compromisso das partes envolvidas (proprietários do território, usuários, científicos, etc) para corrigir a situação. “O que se pretende com o projeto é administrar adequadamente o uso do solo, buscar em que áreas estão estas borboletas, avaliar seu estado de conservação e, no caso de que exista alguma destas problemáticas, administrá-las adequadamente com os pecuaristas, introduzindo gado ou minimizando a carga de gado de algumas áreas que estão sobre-exploradas”, insiste Monasterio.

 

A iniciativa, desenvolvida em uma parcela concreta do município de Abejar, pretende não apenas recuperar a população histórica de “borboletas formigueiras” através das adequadas medidas de conservação, mas também comprometer as atividades produtivas e turísticas da população com a biodiversidade.

 

Congresso em Glasgow

 

O projeto de Custódia do Território para a proteção das borboletas Phengaris participou nesta semana do III Congresso Internacional de Biodiversidade realizado em Glasgow com o apoio da Rede Mediterrânea de Florestas Modelo. A reunião congregou mais de 500 especialistas de todo o mundo e incluiu, em seu programa oficial, a apresentação dos objetivos do trabalho. Neste sentido, outras experiência européias avalizam a repercussão positiva das ações desenvolvidas na evolução das populações de Phengaris.

 

De acordo com Yerai Monasterio, no Congresso foram apresentadas as finalidades do projeto e do convênio de custódia subscrito com a Prefeitura de Abejar. “Queremos recuperar a parcela em custódia realizando medidas de conservação como cercas ou a gestão sustentável da pecuária, para que essa população de borboletas que está praticamente extinta se recupere”, agrega o especialista, que indica que espera conseguir o quanto antes o financiamento necessário para poder iniciar atuações como a instalação de cercas, o monitoramento, a organização de voluntariados para colaborar na sinalização ou atividades de sensibilização e formação.

 

Um gênero único

 

O ciclo de vida das chamadas “borboletas formigueiras” integra uma série de interações ecológicas que faz delas um gênero único, conforme explica a Associação Monte Modelo de Urbión. Como qualquer borboleta, deposita seus ovos em uma planta nutricia, da que se alimentarão na fase preliminar as larvas pequenas. No outono, as larvas devem buscar um lugar melhor para passar o inverno, e caem no solo, ainda que contem com uma proteção única: desprendem feromônios que fazem com que seu cheiro não possa ser diferenciado do das larvas das formigas do gênero Myrmica. Ao receber este sinal, as formigas coletam do solo as larvas da borboleta e as levam ao seu formigueiro. Aí serão alimentadas pelas formigas e, inclusive, devorarão as larvas de sua anfitriã antes de completar a metamorfose e para despertar no verão transformadas em borboletas.

 

O desafio de sua conservação está no verdadeiro equilíbrio dos ecossistemas, e a melhor ferramenta para consegui-lo é o manejo da pecuária; mas a sobrecarga pecuária é tão devastadora quanto o abandono dos pastos para a sobrevivência destas mariposas e do elenco de espécies que participam do seu ciclo de vida. As condições eram perfeitas há dez anos em Abejar, na qual voavam simultaneamente mais de 900 exemplares durante o mês de julho. Em 2012, após anos de decadência exponencial, somente foram observados dois exemplares voando ao mesmo tempo.