Pesquisa-se a evolução do clima a partir de fósseis de anfíbios e répteis encontrados na Gran Dolina
Cristina G. Pedraz/DICYT Saber como era o clima da Terra no passado é o objetivo dos paleoclimatologistas. Estes cientistas utilizam diversas técnicas para realizar suas estimativas, como a análise de camadas de gelo polar, dos anéis das árvores ou dos sedimentos. Nesta última linha, trabalham membros da Equipe de Investigação de Atapuerca (EIA), que estudam há vários anos a evolução do clima a partir de restos de microfauna encontrados nas jazidas da Serra de Atapuerca.
Trata-se de um novo enfoque para abordar o problema com base nas variações registradas na composição da microfauna da Serra. A equipe, orientada pela professora da Universidade de Zaragoza, Gloria Cuenca-Bescós, tem na jazida de Gran Dolina uma grande fonte de informação, já que conta com um amplo registro paleontológico que permite pesquisar o clima do último milhão de anos.
Assim explica a DiCYT Hugues-Alezandre Blain, pesquisador do Instituto Catalão de Paleoecologia Humana e Evolução Social (IPHES), um dos membros deste grupo, formado também por cientistas da Universidade Rovira i Virgili de Tarragona, da Universidade de Zaragoza e do Centro Nacional de Investigação sobre a Evolução Humana (Cenieh), de Burgos.
Concretamente, Blain estudo a fundo as comunidades de anfíbios e répteis encontrados nos distintos níveis da jazida de Gran Dolina. Salamandras, rãs, sapos, lagartos e serpentes são os animais analisados, cuja importância reside em dois aspectos. Por um lado, trata-se de animais que continuam vivos hoje em dia na península Ibérica, enquanto todas as espécies de mamíferos encontradas “correspondem a espécies extintas”. Deste modo, analisando as variações dos anfíbios e répteis atuais, em comparação com os anfíbios e répteis fósseis, “é possível calcular parâmetros climáticos”.
Por outro lado, ainda que se considere popularmente que anfíbios e répteis são animais de sangue frio, regulam sua temperatura corporal em função da temperatura ambiente (ao contrário dos mamíferos que mantém sempre a mesma temperatura), diante do que são animais “muito dependentes da água e da temperatura” e, portanto, das variações do clima.
Últimos trabalhos
Os últimos trabalhos realizados pelo grupo completam os dados climáticos aportados pelos estudos do gelo no Polo Sul e pelos estudos marinhos realizados no oceano Pacífico, nos quais se observou que há 450.000 anos os momentos cálidos ou interglaciais começaram a ser mais cálidos do que hoje. Há aproximadamente dois anos, outros cientistas analisaram o caso da Inglaterra e observaram que não havia estes picos de calor em momentos posteriores a 450.000 anos.
O grupo de microfauna da Equipe de Investigação de Atapuerca estudou o caso Mediterrâneo e concluiu que foi produzida uma importante mudança nas condições de temperatura e pluviosidade há 450.000 anos. Os fósseis de anfíbios e répteis anteriores a esta data revelam a existência de um clima relativamente frio e úmido, enquanto os registros posteriores a 450.000 anos revelaram uma importante mudança nas condições climáticas, com temperaturas maiores e chuvas mais escassas.
A importâncias destes estudos radica em que conhecer as características e as variações do clima do passado é básico para saber quais foram as circunstâncias que determinaram a evolução humana na Europa.
O estudo de anfíbios e répteis se focou na parte da tese doutoral do pesquisador do IPHES, realizada na França entre 2001 e 2005. Futuramente sua intenção é avançar em duas linhas: a paleoecologia humana, isso é, o estudo de restos fósseis para reconstruir o meio ambiente e os ecossistemas do passado; e a paleoclimatologia. “Gostaria de pesquisar o tema da água, já que sempre se falou da temperatura, mas acho que os hominídeos e a fauna estiveram mais ligados à água do que à temperatura, sobretudo no Mediterrâneo, no qual as secas podem ter conseqüências muito graves”, indica.