Salud España , Salamanca, Martes, 07 de junio de 2016 a las 19:30

Nanopartículas revolucionam a forma de administrar fármacos

Congresso ‘BIO.IBEROAMÉRICA 2016’ aborda tratamentos baseados em nanociência a serem aplicados em várias doenças

JPA/DICYT A aplicação da biotecnologia para melhorar a saúde e a alimentação foram duas das questões mais importantes no terceiro dia do Congresso Ibero-Americano de Biotecnologia ‘BIO.IBEROAMÉRICA 2016. Biotecnología Integrando Continentes’ (Biotecnologia a integrar continentes), que decorre em Salamanca (Espanha). Em particular, as novas formas de administração de fármacos para torná-los mais eficazes e com menos efeitos adversos é um dos pontos fortes deste encontro científico.


Jesús Santamaría, investigador no ‘Instituto de Nanociencia de Aragón’ (Instituto de Nanociência de Aragão, Espanha), está a trabalhar em sistemas de entrega de medicamentos através de nanopartículas, ou seja, partículas microscópicas medidas em nanómetros, uma unidade de medida um milhão de vezes menor do que um milímetro. “O objetivo é que o fármaco for para onde quisermos e quando quisermos”, diz o investigador, “e isso o conseguimos através da ativação remota”.


Deste modo, a precisão do tratamento é muito mais elevada do que com os medicamentos tradicionais. “Quando alguém tomar uma aspirina, esta é distribuída pelo corpo todo e apenas uma pequena porção vai curar a dor de cabeça. Isto é bobagem porque é uma perda de medicamento desaproveitado, mas também porque às vezes há efeitos adversos muito significativos, por exemplo na oncologia”, expõe o especialista. Melhorar a precisão por sistemas a permitirem a libertação controlada de fármacos é o grande desafio.


O sistema desenvolvido pelo Instituto de Nanociência de Aragão é capaz de responder a um sinal externo, um campo magnético ou uma radiação com laser infravermelho que vai produzir um aumento da temperatura na nanopartícula. “Ao aquecer, liberta o medicamento e obtemos um efeito terapêutico duplo. Em primeiro lugar, o fato de se aquecer já é benéfico para eliminar as células malignas e, em segundo, permite libertar o fármaco no momento em que quiser”, explana Santamaría. As nanopartículas com que trabalham estão feitas de materiais poliméricos biodegradáveis que contêm o fármaco e um ativador, que pode ser ouro, material magnético ou sulfureto de cobre.


Já existem medicamentos contra o cancro que, encapsulados em nanopartículas, eliminam dois terços dos seus efeitos adversos. Além disso, tais nanoterapias já não se desenvolvem apenas focadas para oncologia, mas podem ser utilizadas para quase qualquer doença. “No nosso grupo de investigação realizáramos experiências in vivo com ratos diabéticos e fomos capazes de controlar o nível de glicose com nanopartículas”, ilustra. Outra possibilidade é tratar a dor crónica e mesmo abre-se a possibilidade de combater a doença de Alzheimer, uma vez que há nanopartículas capazes de atravessar a barreira hematoencefálica, que fica entre os vasos sanguíneos e sistema nervoso central.


Jesús Santamaría está a iniciar uma colaboração com a equipa de Eva Martín del Valle, uma investigadora da Universidade de Salamanca que desenvolve um projeto usando nanopartículas de libertação de medicamentos especificamente concebidos para combaterem o cancro do pulmão. “Ela está a fazer um trabalho muito interessante que já obteve alguns resultados e alcançou uma simbiose muito positiva entre o seu grupo, que desenvolve materiais, e o Centro de Investigação do Cancro, que olha para as aplicações clínicas”, diz o cientista do Instituto de Nanociência de Aragão.


Luta contra as infecções alimentares


Além de tentar curar, a investigação em saúde também presta atenção à prevenção de doenças. O mexicano Carlos Regalado, da Universidade Autónoma de Querétaro, estuda a biotecnologia em alimentos e em ‘BIO.IBEROAMÉRICA 2016’ apresentou os seus progressos face aos microrganismos Listeria monocytogenes, que “raramente causam doenças, mas quando isso acontece é letal”, com mortalidade muito maior do que as causadoras de salmonelose, especialmente no caso de gravidez e doentes idosos ou imunocomprometidos.


Esta bactéria pode contaminar os alimentos por falta de higiene e é capaz de produzir um biofilme para se proteger de tratamentos. Uma vez no corpo, entra nas células e é capaz de atingir o cérebro. Normalmente, utiliza-se hipoclorito de sódio para a combater, mas “na presença de matéria orgânica isto produz compostos cancerígenos”, de modo que alguns países já ponderam banir esta solução. “A nossa alternativa é utilizar água eletrolisada, que procede de adicionar uma pequena concentração de sal à água e submetê-la a eletrólise. Com este método formam-se compostos ativos de cloro que são mais inócuos para nós mas mais letais para o microrganismo do que o hipoclorito de sódio”, explana o cientista.

 

“Microrganismos mineiros”


Muito diferentes são os microrganismos que estuda Edgardo Donati, diretor de CINDEFI, um centro de biotecnologia da Universidade Nacional de La Plata e do CONICET, na Argentina. A sua equipa está à procura de extremófilos, ou seja, de microrganismos que conseguem sobreviver em ambientes extremos, tais como nas altas temperaturas ou na presença de poluentes que destroem outras formas de vida. O objetivo é usá-los para a limpeza de áreas afetadas por metais pesados e também na ‘biomineração’.


“O conceito de ‘biomineração’ é muito novo”, diz o especialista, “a ideia é substituir as tecnologias tradicionais de mineração, como pirometalurgia, que precisa do trabalho em altas temperaturas e produz gases nocivos, por uma alternativa baseada em microrganismos, que permite trabalhar a temperaturas inferiores, com elevada eficiência, muito menos impacto ambiental e de forma mais económica”. Os microrganismos aceleram os mecanismos de dissolução química por volta de um milhão de vezes, de modo que facilitam enormemente a extração do cobre e outros metais, de tal modo que sem eles alguns processos não seriam rentáveis. Na sua procura de extremófilos, os investigadores do CINDEFI até isolaram microrganismos que são espécies novas, desconhecidas até agora.


No programa de hoje também sobressaem as conferências plenárias de Juan José Estruch, que dirige duas empresas dedicadas ao diagnóstico e tratamento de problemas veterinários, e de Martin Schurmann, especialista em bioxidação. ‘BIO.IBEROAMÉRICA 2016’ é um congresso internacional organizado pela Universidade de Salamanca, a Sociedade Espanhola de Biotecnologia (SEBiot) e a Sociedade Portuguesa de Biotecnologia (SPBT), conclui amanhã, 8 de junho, após quatro dias de intercâmbios científicos com a participação de mais de 600 investigadores de toda a Ibero-América.