“Grande ecossistema da savana está muito ameaçado”
Cristina G. Pedraz/DICYT Há décadas a grande fauna africana protagoniza os melhores documentais da natureza que podem ser vistos nos meios de comunicação e nas telas do cinema. Mas o que vemos nestas vistosas reportagens é a realidade desta fauna e do ecossistema da savana? O escritor e naturalista Joaquín Araujo, que oferece no dia 3 de dezembro a última conferencia do ciclo Terças de Outono com Ciência do Museu da Ciência de Valladolid, explica as duas caras do fenômeno.
“Tento dar um passo a frente da percepção dos grandes meios de comunicação e de um dos gêneros do cinema documental mais amplos e de maior sucesso com relação aos grandes animais da África. É positiva a simpatia que despertam, o fato de contempla-lo comodamente no sofá de casa, mas se trata de compreender o que existe por trás deles”, detalha à DiCYT.
Por um lado, existe o fenômeno de que na savana “ainda podem viver milhões de animais com mais de 100 quilogramas”, um espaço extraordinário localizado principalmente na África oriental (em países como Quênia ou Tanzânia). “Nele se pode ver a própria história da vida e o funcionamento extraordinariamente complexo e sofisticado de um dos sistemas naturais que ainda permitem qualificar a este planeta como fascinante pela criatividade da vida que alberga, a savana”. Assim, assegura Araujo, o mais importante nos documentais “é o que não se vê”.
Neste espaço, agrega, ocorrem circunstâncias “relacionadas com aspectos que normalmente passam desapercebidos, o clima, uma situação geográfica que vai de variações de altitude à origem vulcânica de muitas dessas terras, uma situação histórica vinculada com nossa espécie, com sabedorias e conhecimentos tradicionais das etnias do lugar e, logicamente, com o imperialismo dos séculos XVIII, XIX e XX”.
A outra cara é o perigo que corre este ecossistema único. “Trata-se de um patrimônio que todos devemos proteger, os habitante próximos e os que ainda têm a tentação de considerar que tudo isso está sobrando e que o ser humano deve ficar sozinho no planeta”, recorda. Deste modo, é importante destacar que o grande ecossistema da savana também está muito ameaçado. “É um dos lugares em que se está brincando com uma parte do futuro. Agora as grandes potencias mundiais, principalmente a China e a Coreia, estão comprando-o para ter uma reserva de terras de cultivo, e talvez não violem direitos legais, mas certamente os tradicionais dos povos que vivem ali”, enfatiza.
Trajetória de divulgação
Joaquín Araujo é naturalista e escritor, autor de 100 livros e coautor de outros 11. Colunista frequente dos principais jornais da Espanha, também trabalha como diretor, produtor, roteirista e apresentador de séries e documentais de TV. É comissário de 25 exposições e ofereceu cerca de 2.500 conferencias. Além disso, dedica grande parte de seu tempo à agricultura ecológica e ao ativismo cultural.
Seu trabalho foi reconhecido com diversos prêmios: o Global 500 da ONU, duas vezes o Prêmio Nacional de Meio Ambiente, o BBVA à difusão do conhecimento sobre a biodiversidade e o Wilderness Writing Award. É acadêmico da Real Academia de Letras e Artes e Medalha de Ouro da Extremadura.