Technology Spain , Valladolid, Wednesday, October 13 of 2010, 13:09

Desenvolvido robô endoscópico inspirado em movimento da minhoca

Pesquisador da Universidade de Valladolid procura, assim, paliar problemas das endoscopias atuais que limitam adesão dos pacientes a este tipo de exame

Cristina G. Pedraz/DICYT As técnicas endoscópicas são as mais eficazes, por exemplo, na detecção de doenças como o câncer de reto. No entanto, como verificado em entrevistas realizadas com pacientes americanos assintomáticos sobre a conveniência de realizar um exame endoscópico a cada três ou cinco anos para prevenir sua aparição, apenas 13% dos cidadãos se dispôs a realizá-lo devido às dificuldades e riscos envolvidos. Assim afirma o pesquisador David de la Fuente, que realiza sua tese de doutorado na Universidade de Valladolid sobre o desenvolvimento de um robô endoscópico bioinspirado no deslocamento da minhoca, o que permitiria melhorar as técnicas endoscópicas atuais.

 

Segundo a Associação Americana do Câncer, em 2007 foram identificados mais de 153.000 casos de câncer colo-retal e um número de mortes próximo a 52.000, o que situa este tipo de câncer no segundo por número de mortes nos EUA. No entanto, as endoscopias, método mais preciso para detectar a doença, “apesar de haver evoluído nos últimos anos e ter reduzido o tamanho dos tubos, ainda apresenta desenvolvimento limitado e continua envolvendo riscos como perfurações ou pancreatite”.

 

A tese do pesquisador, ganhadora do segundo prêmio na modalidade de tese de doutorado do concurso “Valorize sua Investigação”, organizado pelo Parque Científico Universidade de Valladolid no marco do projeto T-CUE (Transferência de Conhecimento Universidade-Empresa), propõe um protótipo de robô endoscópico que representa uma evolução na técnica atual, e que não é “um elemento passivo”.

 

O dispositivo idealizado constitui um elemento ativo e possibilita, de acordo com David de la Fuente, “uma série de melhorias para os especialistas desta área, já que lhes possibilita um melhor desenvolvimento de seu trabalho, melhor estimativa das dolências e melhor atuação paliativa”.

 

Especificações técnicas

 

O robô endoscópico, atualmente em fase de construção, parte das características do intestino humano. “O intestino tem algumas limitações, trata-se de um conduto longo cujo diâmetro e forma são variáveis e de superfície irregular, com curvas que não podem ser descritas matematicamente”, assegura, um problema que está sendo abordado desde diversos pontos da técnica nos últimos anos e que, devido a sua complexidade, “não chega a decolar”.

 

O sistema desenvolvido é bioinspirado, isto é, está baseado no método de deslocamento da minhoca (um ápodo) e é modular, “o que implica uma série de vantagens com relação ao seu desenvolvimento e ativação”. Além disso, é “como a tromba de um elefante com respeito a versatilidade que pode ter em um entorno como o intestino”. É supervisionado por pessoal qualificado, já que “o cirurgião deve ser a pessoa que decidirá a cada instante qual será o próximo passo a seguir”. Com relação ao tubo, seu diâmetro é inferior ao dos dispositivos atualmente utilizados e conta com um sistema de posicionamento muito preciso, “de tal maneira que em um ponto crítico pode depositar um marcador que serve como alvo para provocar uma radiação em uma zona determinada”.

 

O objetivo final é aumentar o nível de adesão dos pacientes a este exame e converter-se em uma solução viável de trabalho para os gastroenterologistas, onde estas ferramentas “representam um alto valor agregado”. Posteriormente, pretende-se ampliar sua atuação a outras áreas da medicina.

 

Potenciais aplicações

 

Além do diagnóstico de doenças como o câncer, o dispositivo tem como aplicações potenciais a detecção de contrabando de drogas, doenças em fase inicial, marcação de zonas de interesse, possibilidade de elaborar-se um estudo exaustivo do comportamento mecânico e elástico do intestino delgado e a realização de cartografia e representações 3D personalizadas. “Este último ponto não deixa de ser um problema já que cada um de nós temos nossa própria cavidade e não se conhece um modelo exato de como funciona o intestino sem que para isso tenhamos que administrar algum tipo de medicamento. Realmente não temos um diagnóstico real do funcionamento de um paciente que não está sedado”, aponta o pesquisador.