Atlas ilustrado mostrará variedade de diatomáceas existentes na bacia do Duero
Antonio Martín/DICYT As diatomáceas são um tipo de alga microscópica aquática muito interessante para os cientistas. Devido a sua ampla distribuição tanto em águas marinhas como em água doce e sua localização na base da cadeia trófica, estas algas servem de indicador biológico para o ambiente em que se encontram. Conhecer a variedade destas espécies é importante para saber o estado de saúde das bacias hidrográficas. A do Duero contará em breve com seu primeiro atlas ilustrado destas algas, um trabalho de sete anos de pesquisa a cargo do Laboratório de Diatomologia da Universidade de León (ULE).
Fruto de um convênio específico de colaboração com a Confederação Hidrográfica do Duero, o grupo da área de Ecologia do Departamento de Biodiversidade e Gestão Ambiental da ULE analisa desde 2004 as diatomáceas da bacia. Até 2009, os cientistas deste grupo reuniram uma extensa amostragem dos rios que conformam este sistema hídrico para posterior análise no laboratório das comunidades que encontravam no substrato dos ecossistemas aquáticos. Este substrato é conhecido tecnicamente como fitobento.
Os trabalhos do Laboratório de Diatomologia resultaram em um manual “de publicação próxima”, informa um de seus membros, Saúl Blanco. As sete campanhas biológicas que realizaram os especialistas permitiram identificar mais de 260.000 indivíduos em mais de 600 amostras, o que aporta uma visão de conjunto da flora de diatomáceas existente em todo o sub-planalto norte. Na obra estarão reunidas as espécies mais abundantes e amplamente distribuídas na bacia. O manual tem como objetivo oferecer informação básica para a identificação desta classe para os técnicos e biólogos encarregados de avaliar a qualidade biológica das águas do Duero e seus rios tributários, que configuram a maior bacia geográfica da península (78.952 Km2 correspondem ao território espanhol e 18.238 Km2 ao português). O trabalho foi financiado integramente pela Confederação Hidrográfica do Duero (CHD).
Ameaças
Ao realizar os trabalhos para o manual, os cientistas encontram o “lado escuro” destas espécies de algas: as infestações massivas de uma diatomácea invasora, muito nociva para os locais onde se estabelece. Trata-se da Didymosphenia geminata, uma alga que cresce rapidamente formando uma espécie de “cimento” de vários centímetros. Sua presença altera totalmente o ecossistema fluvial, reduzindo as possibilidade de crescimento de invertebrados e afetados toda a cadeia trófica. Especialistas da Universidade de León a detectaram pela primeira vez no rio Revinuesa (Soria), em Castilla y León, em 2008 e comprovaram sua expansão ao Porma (León) e outros rios da província e Palencia no ano seguinte. Eloy Bécares, responsável do grupo, aponta que “os altos e atípicos caudais dos rios nesta primavera nos impediram de comprovar sua expansão”. O ser humano, através de aparelhos de pesca e calçado, é o principal responsável por sua expansão.
O grupo de pesquisa estabeleceu as bases para o desenho de estratégias de controle e prevenção da dispersão desta invasão biológica.
100.000 espécies
A diatomologia é uma disciplina em amplo crescimento nos dias de hoje. O grupo que a compõe é diverso, com 100.000 espécies e 400 incorporações novas a cada ano, o que atrai a atenção dos biólogos. Esta ciência converge, ademais, com outras disciplinas como a fisiologia, genética ou biologia evolutiva.
O grupo de especialistas também trabalhou nos últimos anos no estabelecimento das bases científicas para a definição do estado ecológico dos sistemas de água doce para a implementação da Diretiva Marco da Água da União Européia. Esta norma propicia a análise das comunidades bióticas de todas as massas de água mediante utilização de organismos indicadores.
Registradas seis novas espécies para a Ciência
Do ponto de vista taxonômico, o grupo de diatomólogos conseguiu descobrir seis novas espécies a nível mundial nos rios e lagoas da comunidade autônoma, como Gomphonema vidalii e Eolimna becaresii, que levam em seu nome o sobrenome de alguns de seus membros, como homenagem. Os pesquisadores também destacam, como contribuição “mais significativa”, a aplicação de técnicas novas de geometria morfométrica para o diagnóstico taxonômico deste grupo de algas.
Outras linhas de pesquisa seguidas pelo grupo durante os últimos anos foi a exploração de diferentes campos da ficologia aplicada, como a determinação de toxinas associadas a crescimentos massivos de cianobactérias planctônicas em massas de água, a dinâmica de crescimento de microalgas em biorreatores para o tratamento de purines ou o estudo de microcontaminantes em rios.