Alimentación Portugal , Oporto, Lunes, 12 de mayo de 2014 a las 10:26

Veneno de caracol marinho pode conter segredo para tratar a dor cr贸nica

Os venenos de carac贸is marinhos do g茅nero Conus englobam as estrat茅gias mais sofisticadas de envenenamento conhecidos no reino animal

UP/DICYT E se um dos venenos mais letais do reino animal pudesse ajudar a curar algumas das mais mortíferas doenças no ser humano? É essa a hipótese defendida por uma equipa de cientistas internacional, da qual fazem parte Kartik Sunagar e Agostinho Antunes, do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR), tendo por base uma descoberta inovadora envolvendo o caracol marinho Conus geographus, existente na Grande Barreira de Coral na Austrália.

 

Publicado recentemente na conceituada revista científica Nature Communications, o estudo demonstra pela primeira vez a capacidade de um animal venenoso de utilizar venenos distintos para caçar presas e se defender de predadores. ”O veneno defensivo [350 vezes mais potente do que o veneno de predação] destes animais possui elevadas quantidades de toxinas paralíticas que bloqueiam recetores neuromusculares, causando efeitos letais em seres humanos. Em contraste, o veneno predatório contem toxinas especificas para as presas (peixes), sendo maioritariamente inativos em alvos humanos”, descreve Agostinho Antunes.

 

É essa alternância “surpreendente” na produção de venenos distintos em resposta a estímulos predatórios ou defensivos que os investigadores acreditam que pode ser potenciada em favor do ser humano. “A estratégia defensiva de envenenamento separado desenvolvida pelos caracóis marinhos do género Conus é uma adaptação notável, mudando a compreensão dos mecanismos de biologia, evolução e diversificação de toxinas em Conidae”, aponta o investigador.

 

Na prática, “este conhecimento abre caminho para a identificação de novas toxinas de venenos que atuam no sistemas nervoso humano, podendo resultar em novos tratamentos para a dor crónica”. Mas não só. Se os compostos criados à base dos conopeptidos produzidos pelos caracóis marinhos Conus ”têm grande potencial como drogas analgésicas que podem ser até 10.000 vezes mais potentes que a morfina, sem os seus efeitos colaterais”, a sua utilização “pode estender-se a pacientes que sofram de cancro, artrite, herpes, diabetes, Alzheimer, Parkinson e SIDA”, exemplifica Agostinho Antunes.

 

Os resultados obtidos no estudo abrem ainda portas para a criação de antídotos para o veneno de caracóis marinhos do género Conus , responsável por mais de 30 mortes humanas conhecidas. Para os investigadores, “compreender os mecanismos moleculares que influenciam a evolução e diversificação genética dos genes que codificam venenos pode fornecer informação importante para o desenho de drogas e antídotos de grande eficiência, que poderão salvar vidas humanas”.

 

Sobre os autores

 

Licenciado e Mestre em Biologia pela Universidade de Karnataka (Índia), de onde é natural, Kartik Sunagar (1985) concluiu em dezembro de 2013 o seu doutoramento na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto com uma tese sobre a evolução de venenos em animais, desenvolvida no CIIMAR. O trabalho contou com a orientação do geneticista Agostinho Antunes (1972), investigador no CIIMAR e professor do Departamento de Biologia da Faculdade de Ciências da U.Porto (FCUP). Licenciado em Biologia pela U.Porto, Mestre na área da Genética Animal e doutorado em Biologia na área da Genética Molecular e Evolução, é ainda o Coordenador do Grupo de Genómica Evolutiva do CIIMAR e responsável pela Direção Científica Técnica do Centro de Monitorização e Interpretação Ambiental de Matosinhos (CMIA) da Câmara Municipal de Matosinhos.

 

Os dois investigadores integraram recentemente outros trabalhos de elevada relevância para o estudo de venenos em animais, publicados em revistas científicas da especialidade, em grupos diversificados incluindo os morcegos vampiros, cobras, lagartos, cefalópodes (polvo, lulas e chocos), escorpiões e aranhas. Alguns desses trabalhos tiveram reconhecimento de instituições como a National Geographic Society.