Publicam pela primeira vez casos de infecção por ‘Janibacter terrae’ em humanos
Cristina G. Pedraz/DICYT Investigadores dos departamentos de Microbiologia Clínica e Medicina Interna do Complexo Assistencial Universitário de León, do Instituto de Biomedicina da Universidade de León (IBIOMED), do Centro Nacional de Microbiologia do Instituto de Saúde Carlos III e da Escola Universitária de Fisioterapia da ONCE de Madrid (Espanha) publicaram, pela primeira vez, quatro casos de bacteremia (presença de bactérias no sangue) por Janibacter terrae em humanos.
O estudo, publicado na revista Infection, demonstra que a bactéria Janibacter terrae não só está presente no meio ambiente, pois até agora tinha sido isolada exclusivamente do solo.
Conforme explica a primeira autora do artigo, a doutora Isabel Fernández Natal, investigadora do Departamento de Microbiologia Clínica no Complexo IBIOMED de León, até agora, apenas tinham sido notificados dois casos de isolamento de microrganismos pertencentes ao género Janibacter a partir de amostras humanas. O primeiro caso foi uma bacteremia por uma espécie não descrita de Janibacter sp., em um paciente com diagnóstico de leucemia mieloide, e o segundo foi um bacteremia por J. melonis, em um paciente com febrícula e sem doença de base ou subjacente.
Neste estudo os investigadores fornecem dados microbiológicos e clínicos exaustivos de quatro pacientes febris estudados ao longo de um período de três anos, em quem foi isolada a bactéria J. terrae a partir de culturas de sangue (bacteremia). Os pacientes estudados tinham patologias subjacentes, nomeadamente doença pulmonar obstrutiva crónica com bronquite aguda, diabetes, linfoma não-Hodgkin e cancro do estômago com metástase hepática. Aliás, “é a primeira vez que há dados de sensibilidade aos antibióticos neste género”, assegura a doutora.
Os isolados foram obtidos a partir de duas amostras de sangue consecutivas de cada paciente. Utilizaram-se métodos de identificação fenotípica (testes comerciais e exames complementares convencionais) e genotípica (amplificação e sequenciação de fragmentos de ADN). Todos os pacientes foram tratados com antibióticos, dois dos quais tiveram uma evolução favorável para a cura e os outros dois, os que sofriam patologias de base mais graves, faleceram.
“Esta é a primeira publicação de quatro casos de bacteremia por Janibacter terrae em seres humanos, o que mostra que não só está presente no meio ambiente. Além disso, J. terrae pode ser considerado um patógeno oportunista, responsável por bacteremia em pacientes com doenças subjacentes graves”, indica Fernández Natal.
Características da bactéria
As espécies do género Janibacter são microrganismos aeróbios, ou seja, precisam de oxigénio para viver. As colónias são húmidas, circulares, convexas e de uma cor que pode variar do branco ao amarelo. A temperatura ótima de crescimento está entre 23 e 35 graus Celsius.
O género foi descrito em 1997 a partir de águas residuais e, durante o cultivo, apresenta uma morfologia característica de duas faces, como o deus Jano da mitologia romana (daí o seu nome). No entanto, esta morfologia não é exclusiva deste género porque também pode ser observada em membros dos géneros Arthrobacter e Brevibacterium.
Até agora foram descritas nove espécies: J. limosus, J. terrae, J. indicus, J. melonis, J. anophelis, J. hoylei, J. corallicola, J. alkaliphilus e J. cremeus. As bactérias J. limosus e J. terrae foram isoladas em solos poluídos com águas residuais e a J. indicus em sedimentos hidrotermais do oceano Índico. As J. corallicola y J. alkaliphilicus provém do coral e, finalmente, as J. melonis, J. anophelis e J. hoylei foram isoladas em plantas, insetos e no ar, respetivamente.
Este trabalho foi financiado pela Administração Regional de Saúde de Castilla y León, através do Projeto de Investigação GRS 698/A/2011.
Referência bibliográfica: | |
Fernández-Natal, M. I., Sáez-Nieto, J. A., Medina-Pascual, M. J., Valdezate-Ramos, S., Guerra-Laso, J. M., Rodríguez-Pollán, R. H., y Soriano, F. (2015). “First report of bacteremia by Janibacter terrae in humans”. Infection, 43, 1, 103-106. DOI 10.1007/s15010-014-0672-7. |