Projeto europeu de sequenciamento genético busca avanços contra a leucemia
José Pichel Andrés/DICYT A Comissão Européia deu início a um projeto dentro do 7º Programa Marco no qual uma dezena de sócios, dentre eles universidades e empresas, unem esforços para sequenciar o genoma dos pacientes com leucemia, a fim de desenvolver terapias personalizadas e mais efetivas. A pesquisa será realizada entre 2013 e 2015 e conta com a participação da Espanha, através de uma equipe de pesquisa de Salamanca.
O projeto Next Generation Sequencing for Targeted Personalized Therapy of Leukemia baseia-se em “utilizar as novas técnicas de sequenciamento massivo” para determinar as alterações genéticas próprias da doença e com o objetivo final de desenvolver terapias contra a leucemia, explica a DiCYT Jesús María Hernández, cientista do Serviço de Hematologia do Hospital Universitário de Salamanca e do Centro de Investigação do Câncer.
O consórcio, que dispõe de quase seis milhões de euros para administrar o projeto nos próximos três anos, está liderado pela Universidade de Bolonha (Itália), acompanhada das universidades de Turin (Itália), Ulm (Alemanha), Masarykova (República Checa), Leuven (Bélgica) e Salamanca, além de empresas da Itália, Suíça e Alemanha. O papel dos cientistas de Salamanca será escolher os doentes adequados para participar dos estudos.
O único grupo espanhol deste projeto participa graças a sua ampla experiência nesta linha de pesquisa, já que pertence à Rede Européia de Leucemia, que agrupa a milhares de pesquisadores. Assim, Jesús María Hernández Rivas e sua equipe já fazem parte do Projeto MILE: ‘Microarray innovations in Leukemia’, no qual se propôs melhorar o diagnóstico das leucemias baseando-se em dados de microarrays ou chips de RNA (ácido ribonucléico). Pelo contrário, o projeto atual baseia-se tanto no sequenciamento do DNA, quanto do RNA dos doentes com leucemia.
O grupo de Salamanca também co-liderou o projeto EuGESMA (European Genomics and Epigenomics Study on MDS and AML), que desenvolveu novas metodologias de pesquisa genética e epigenética aplicadas ao estudo das leucemias mielóides.
Colaboração Internacional
Através destes e outros projetos, “compartilhamos tecnologia e resultados, e tivemos a possibilidade de reforçar muitos vínculos com pesquisadores de outros países”, indica o especialista. Todos foram na mesma linha: “melhorar o diagnóstico e o tratamento dos pacientes com leucemia”.
O que sofreu modificações foi a metodologia. O sequenciamento do genoma humano deu lugar a novas possibilidades de pesquisa, o que se traduziu, por exemplo, no consórcio internacional criado para o estudo do genoma do câncer (International Cancer Genome Consortium, ICGC), um projeto mundial que consiste em seqüenciar o genoma completo de 500 pacientes de cada um dos 50 tumores mais frequentes e no qual correspondeu à Espanha a leucemia linfática crônica, a mais freqüente, com a participação de Salamanca.
O objetivo agora é levar os resultados à prática e “definir que tipos de mutações apresentam estas doenças e que devem ser tratadas da mesma forma”. Para tanto, é preciso utilizar a Bioinformática e interpretar a grande quantidade de informação proporcionada pelas novas técnicas de sequenciamento massivo. Os cientistas focaram-se até agora no estudo do exoma, isso é, a parte dos genes que dá lugar às proteínas, mas sabem que o restante do genoma também é muito importante, sobre tudo após os resultados do projeto ENCODE. “Possivelmente devemos focar-nos no exoma, porque o resto não é nossa responsabilidade”, admite Hernández Rivas, “mas o seguinte passo será analisar todo o genoma e o transcriptoma dos tumores”.
Características da doença
Ao analisar em paralelo uma amostra do DNA normal de uma pessoa e uma amostra de leucemia, “o que encontremos na segundo que não esteja na primeira será a característica da doença”, afirma o especialista. Desta forma é possível saber quantas mutações sofrem as leucemias, um número bastante elevado em cada doente, mas muito inferior ao que apresentam os tumores mais frequentes como o de pulmão ou de mama.
Neste processo é fundamental saber se as mutações estão claramente relacionadas com o surgimento da doença ou se são “simples acompanhantes”, o que é difícil de estabelecer porque as células tumorais têm uma grande instabilidade genética por definição. “Seus mecanismos de reparação estão danificados e, por isso, o surgimento de mutações é mais fácil que em qualquer outro tipo de célula”, indica.
Ainda que não exista apenas uma mutação que explique um tumor, no caso da leucemia linfática crônica “o gene que aparece mutado com maior freqüência somente está presente em 12% dos doentes”, o que quer dizer que “provavelmente o que estamos chamando por determinado nome responde a muitas doenças que se manifestam de modo semelhante”.
Assim, o sequenciamento massivo permitirá também passar de um diagnóstico fenotípico a um diagnóstico molecular das doenças, e permitirá enfocar os tratamentos aos transtornos genéticos com uma melhoria considerável em sua eficiência.