Health Spain , León, Friday, September 30 of 2011, 14:31

Pesquisa-se se a carne vermelha está por trás de alguns dos cânceres mais freqüentes na Espanha

Abusar deste alimento ou determinadas formas de cozinhá-lo pode aumentar o risco de desenvolver tumores de cólon, reto ou gástrico

Rubén Arranz/DICYT Determinadas formas de cozinhar a carne vermelha e algumas carnes processadas, como os embutidos, geram uma série de contaminantes que, acredita-se, podem aumentar a probabilidade de que seu consumidor desenvolva câncer colorretal. Algumas pesquisas realizadas na Espanha e na Europa procuram descobrir se a presença excessiva desta carne na dieta pode implicar também um fator de risco para desenvolver este tipo de tumor. Este é um dos assuntos abordados hoje na capital de León na reunião científica do Projeto de Pesquisa Meio Ambiente, Genética e Câncer na Espanha.

 

Hoje e amanhã se reúnem em León cerca de 50 pesquisadores relacionados com o projeto MCC-Spain, que através dos dados coletados em 16 centros pesquisadores e 19 hospitais de 10 comunidades autônomas procura discernir em que medida influem os fatores ambientais no desenvolvimento dos tumores mais freqüentes na Espanha.

 

Pilar Amiano, da subdireção de Saúde Pública de Guipúzcoa - que estuda a dieta como um destes fatores ambientais -, afirmou ao DiCYT que determinados métodos de cocção das carnes vermelhas e das processadas geram uma série de elementos prejudiciais, como as denominadas amidas heterocíclicas e os compostos policíclicos hidrocarbonados, que parece ter efeito carcinogênico. Consumir de forma moderada este alimento e sua substituição na dieta pela carne branca, bem como evitar cozinhá-lo com óleo ou brasas muito quentes, são algumas das indicações dadas pela pesquisadora para evitar que o organismo entre em contato com estes contaminantes.

 

Dentro de outro projeto realizado há uma década em dez países europeus identificou-se também a carne vermelha como um dos fatores de predisposição ao câncer de estômago. A Meseta Norte é a região da Espanha com mais incidência e mais mortes em conseqüência desta doença. Ainda que não se conheçam muito bem as causas, Carlos Alberto González, pesquisador do Instituto Catalão de Oncologia (ICO), afirmou que provavelmente estão relacionadas com a alimentação. Concretamente, aumentam o risco desta patologia o tabaco (responsável por 18% destes tumores), o baixo consumo de frutas, cítricos e vegetais frescos; e uma alimentação com abundância de alimentos salgados, embutidos e carnes vermelhas e defumadas.

 

Junto à dieta também tem um papel importante a bactéria Helicobacter pylori. Este microorganismo vive há milhares de anos no estômago do ser humano e estima-se que reside atualmente em 70% ou 80% da população. Cerca de 10% a 15% dos indivíduos que a possuem podem desenvolver uma ulcera duodenal ao longo de sua vida, enquanto que 1% a 2% terão câncer de estômago, uma doença cuja taxa de sobrevivência aos cinco anos ronda os 25%.

 

Tratamento da água

 

Outro agente ambiental estudado pelo grupo do projeto MCC-Spain é a água. O Centro de Pesquisa em Epidemiologia Ambiental (CREAL) de Barcelona busca encontrar a influência dos contaminantes específicos formados durante a descontaminação da água no aumento das possibilidades de desenvolver câncer colorretal, explicou a DiCYT Cristina Villanueva, cientista do centro.

 

A água é uma das principais vias pelas quais o ser humano está em contato com o meio ambiente, e pode ter contaminantes prejudiciais à saúde. “O tratamento é um dos processos pelo qual se pode formar contaminantes prejudiciais à saúde. Neste sentido, também depende muito a qualidade da água de origem. Se a qualidade é boa, então o tratamento não afeta tanto, não são produzidos tantos subprodutos tóxicos. Mas se a água não é de boa qualidade, o tratamento necessário é mais intensivo e então são produzidos mais subprodutos tóxicos”, expôs.

 

Eliminar matéria orgânica da água antes de sua descontaminação ou utilizar a denominada osmose inversa - filtragem da água mediante membranas - são as técnica que podem ser utilizadas para reduzir o número de contaminantes prejudiciais na água, mas a pesquisadora enfatiza que são “mais caros”.

 

Tratamento do câncer

 

Das doenças que afetam a população adulta da Espanha, o câncer é a mais importante. Dois de cada três homens e uma de cada três mulheres desenvolverão um câncer durante sua vida. 80% ou 90% das causas de sua aparição estão relacionadas com o estilo de vida e com fatores ambientais, enquanto somente 10% estão relacionadas com fatores genéticos. Isto é “muito importante” porque indica que pode ser prevenido em grande parte das vezes, pois são fatores modificáveis, ao contrário da genética, destacou Carlos Alberto González.

 

Ainda que nos últimos anos se tenha avançado no tratamento das leucemias infantis, do câncer de mama e do colorretal, avançou-se muito pouco em outros como o de pulmão, de esôfago, de pâncreas ou de estômago, que continuam apresentando uma alta letalidade.

 

Campanhas informativas sobre os efeitos negativos sobre a saúde da obesidade, como as realizadas contra o tabaco, ajudariam a conscientizar a população sobre a importância de adotar hábitos saudáveis, assegura o pesquisador, que por sua vez lamenta que a Espanha esteja fazendo “relativamente pouco” neste campo.