Health Spain , Salamanca, Thursday, July 28 of 2011, 13:56

Pesquisa procura evitar os efeitos colaterais de medicamentos usados no tratamento da esquizofrenia

Medicamentos utilizados em pacientes esquizofrênicos podem resultar em ganho de peso, diabete e hipertensão

Alberto Órf/DICYT Um projeto de pesquisa dirigido por Vicente Molina, especialista em Neuropsiquiatria do Instituto de Neurociências de Castela e Leão (Incyl) e da Universidade de Salamanca, procura modos de prevenir ou tratar os efeitos colaterais provocados nos pacientes psiquiátricos pelo uso de fármacos para o tratamento da esquizofrenia e outras doenças psiquiátricas. Estes medicamentos são muito eficazes, mas apresentam efeitos colaterais de ordem metabólica como ganho de peso, diabete ou hipertensão. As linhas gerais deste projeto consistem na busca pelas variações genéticas que fazem com que os pacientes se tornem mais susceptíveis a estes efeitos, de maneira que se possa utilizar medicamentos alternativos.

 

Trata-se de descobrir se existe uma relação entre os níveis circulantes de fármacos no sangue e o aparecimentos destes efeitos colaterais, ou se existe uma relação entre a variação genética a nível do metabolismo dos fármacos ou do risco para a síndrome metabólica na população em geral. “Ao mesmo tempo, temos um programa de intervenção sobre estes efeitos, intervenção farmacológica, nutricional e higiênica, que normalmente não é utilizado e que acreditamos que pode beneficiar os pacientes”, explicou em declarações a DiCYT Vicente Molina, que também trabalha como psiquiatra no Hospital Universitário de Salamanca.

 

Atualmente existe muita pesquisa sobre esquizofrenia, milhares de artigos publicados a cada ano, segundo o especialista. Umas das linhas mais importantes é a da determinação dos fatores cerebrais envolvidos na doença, relacionando com eles os fatores genéticos, assim como a interação entre ambiente e os fatores genéticos no aparecimento de uma doença como a esquizofrenia. Melhorar os tratamentos é outra linha forte de pesquisa, dentro da qual se inclui a pesquisa realizada em Salamanca.

 

“Nossos esforços de pesquisa com outros projetos que temos atualmente pretendem determinar o papel de uma linha celular como a da neuroglia, ou célula da glia, neste problema (trata-se de células alimentadoras do sistema nervos que desempenham, de forma principal, a função de suporte dos neurônios)”, comenta o pesquisador do Incyl. “Uma linha importante dentro de nossa pesquisa consiste em determinar a importância funcional do que chamamos ruído ou hiperativação desorganizada do córtex. Ao paciente não lhe falta atividade, mas é menos capaz de centralizar a atividade cerebral em ações concretas e isso dá lugar a problemas cognitivos ou a problemas de confusão, por exemplo, entre o que seria o mundo interior e o mundo exterior dos pacientes”.

 

Avanços na pesquisa

 

Com respeito aos avanços na pesquisa sobre essa doença, existem muitas descobertas, mas pouco replicações; isto é, aparecem muitos dados, mas que não são uniformes. Isso acontece, de acordo com Molina, porque “provavelmente a doença não é uma doença, mas um conjunto de sintomas, não havendo um padrão que possa ser aplicado claramente a todos os pacientes”. Apesar da existência destas complicações, “na alteração cerebral de muitos pacientes existe uma certa disfunção dos neurônios inibitórios, ou seja, dos neurônios que freiam outros neurônios”, esclareceu Vicente Molina.

 

Os cientistas relacionam cada vez mais a esquizofrenia a fatores genéticos, que poderiam explicar entre 70% e 80% dos casos, apesar de ainda não encontrados genes anormais relacionados. “Nos pacientes é observada uma grande quantidade de variações genéticas, cada uma com um peso relativamente pequeno, mas cuja combinação faz com que os pacientes sejam, por um lado, muito diferentes entre si e, por outro, que estejam doentes”, comentou o doutor Molina. “Futuramente, encontraremos os fatores que explicam essa grande variação entre pacientes para compreender melhor o padrão de causas desta síndrome”.