Perda de diversidade microbiana no solo preocupa
Cintia Cavalcanti/ComCiência/Labjor/DICYT Além da conhecida perda de diversidade animal e vegetal, a crescente conversão da floresta Amazônica em pastagens tem conduzido a uma homogeneização das comunidades microbianas, mais especificamente à perda de bactérias no solo. Esta é a conclusão um estudo publicado pela revista Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America.
De acordo com o artigo, embora a biodiversidade microbiológica também responda de maneira marcante às atividades antrópicas, essa resposta ocorre de forma diferente à aquela das plantas e animais. Logo após a conversão da floresta, a diversidade local - conhecida por diversidade alfa - de bactérias do solo aumenta. Entretanto as comunidades bacterianas tornam-se mais similares através do espaço, reduzindo a chamada diversidade beta.
Até o momento, só um outro estudo havia tentado determinar a reposta da diversidade bacteriana à conversão de ecossistemas amazônicos. A conclusão, no entanto, foi bastante diferente, apontando que a diversidade bacteriana não era afetada de forma negativa pela mudança da cobertura florestal por pastagens. De acordo com a engenheira agrônoma Tsai Siu Mui, co-autora do artigo mais recente, os resultados do estudo anterior teriam levado em conta apenas a diversidade alfa.
Mui explica que, se levarmos somente a diversidade alfa em consideração, não teríamos problema algum em converter floresta em pastos, uma vez que a diversidade de microrganismos seria mantida ou aumentaria. “O nosso trabalho mostrou que isso não é verdade. Haverá mais microrganismos no pasto, mas existirão mais do mesmos grupos e não de diferentes grupos. A diversidade total é alterada”, esclarece a pesquisadora.
O principal resultado da redução da diversidade beta é que as comunidades microbianas ficam mais parecidas taxonômica e filogeneticamente, afirma Mui. “Se organismos são mais parecidos uns com os outros, então as chances de recuperação em caso de um estresse ambiental são muito menores”, explica. Segundo ela, a conversão das florestas em pastagens pode resultar na perda permanente de microrganismos no caso de uma seca mais intensa, como a que ocorreu na Amazônia em 2005.
Além de representarem a maior parte da biodiversidade em ecossistemas terrestres, os microrganismos desempenham funções importantes em processos como a reciclagem de nutrientes, degradação de material orgânico, sequestro de carbono e nos ciclos biogeoquímicos. De acordo com Mui, a conversão de florestas para pastagens pode resultar numa maior liberação de metano - um gás de efeito estufa muito mais potente que o gás carbônico -, na alteração da manutenção dos ciclos biogeoquímicos e na perda do potencial genético destes microrganismos para o desenvolvimento de novos fármacos e antibióticos.