Health Portugal , Portugal, Tuesday, July 18 of 2023, 09:35

Novo estudo sugere terapia combinada para prevenir a resistência ao tratamento em doentes com cancro da mama metastático do tipo luminal

Um estudo descobriu um alvo molecular promissor nas células do cancro que poderá ser usado em combinação com a terapêutica atual para evitar a resistência ao tratamento no cancro da mama luminal metastático

iMM/CNIO/DICYT O cancro da mama é uma doença heterogénea, mas 70% dos casos são caracterizados pela presença de recetores hormonais para estrogénio, progesterona ou ambos, sendo este designado cancro da mama do tipo luminal. Neste caso, a primeira linha de tratamento para pacientes que sofrem de doença metastática é a terapia endócrina em combinação com inibidores CDK4/6, mas a maioria desenvolve resistência ao tratamento no intervalo de dois anos. Agora, um novo estudo liderado por Sandra Casimiro, investigadora do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (iMM; Portugal), e Luís Costa, investigador principal do iMM e oncologista do Hospital Santa Maria (Portugal), e publicado na revista científica Cell Reports Medicine, descobriu um alvo molecular promissor nas células do cancro que poderá ser usado em combinação com a terapêutica atual para evitar a resistência ao tratamento no cancro da mama luminal metastático.

 

"Atualmente, o tratamento de primeira linha para o cancro da mama luminal metastático, em que as células do cancro têm recetores para estrogénio e/ou progesterona, é a combinação de terapia endócrina com inibidores de CDK4/6. Apesar deste tratamento ter sido uma descoberta que mudou a vida das pacientes com cancro da mama, cerca de 20% não respondem ao tratamento e a maioria das que respondem podem desenvolver resistência no intervalo de 2 anos", refere Luís Costa, oncologista e co-líder do estudo.

 

"Estudámos a possibilidade da via de sinalização do recetor RANK, que é um importante mediador da agressividade do cancro da mama no cancro triplo negativo, ser relevante na resistência ao tratamento no caso do cancro da mama luminal", explica Sandra Casimiro, co-líder do estudo e investigadora do iMM. "Neste estudo, verificámos que níveis elevados de RANK nas células cancerígenas estão associados à resistência ao tratamento com inibidores de CDK4/6. Ao analisar um conjunto de dados de amostras humanas de tumores de pacientes tratadas com inibidores de CDK4/6, descobrimos que os níveis de RANK no tumor aumentam ao longo da duração do tratamento. Isto sugere que a via RANK também pode estar implicada na resistência adquirida", continua Sandra Casimiro, acrescentando: "Tendo isto em mente, testámos se a inibição da via de sinalização RANK em combinação com a terapia atual melhoraria a eficácia do tratamento, in vitro e em modelos de ratinho, e descobrimos que as células cancerígenas respondem melhor ao tratamento na presença de inibidores de ligandos do recetor RANK".

 

"A inibição farmacológica da via de sinalização RANK já é utilizada na prática clínica. O nosso estudo sugere que a terapia combinada com inibidores desta via de sinalização e o tratamento usado atualmente para o cancro da mama luminal metastático pode melhorar o resultado do tratamento em doentes que não respondem e atrasar, ou mesmo evitar, a resistência ao tratamento", conclui Luís Costa, sobre a relevância clínica destes resultados. Após a realização de estudos clínicos, a inibição de ligandos do recetor RANK poderá ser uma terapia complementar ao atual tratamento promissora para o cancro da mama responsivo a hormonas.

 

 

Este trabalho foi desenvolvido no iMM em colaboração com o Serviço de Oncologia do Hospital de Santa Maria, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte (Portugal), e com investigadores do Centro Nacional Espanhol de Investigação em Cancro (Espanha) e do Instituto de Investigação Biomédica Bellvitge (Espanha). Este estudo foi financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT).