Investigam a influência das edificações sobre a saúde
José Pichel Andrés/DICYT A maioria das pessoas gasta cerca de 90% do seu tempo em espaços fechados, nas suas próprias casas e locais de trabalho, estudo e lazer. Portanto, são determinantes para a saúde as condições interiores dessas edificações, por exemplo, a temperatura, humidade, ruído, qualidade do ar interior e materiais de construção. A equipa do Laboratório de Saúde na Edificação da Universidade da Beira Interior (LABSED-UBI), investiga todos estes aspectos para obter um ambiente mais saudável.
“As novas maneiras de construir e preocupações como a eficiência térmica resultaram em uma maior impermeabilização das edificações; assim, uma insuficiente renovação do ar interior representa um risco para a saúde porque se acumulam elementos nocivos”, ilustra João Lanzinha, o coordenador do LABSED, em declarações à DiCYT.
Junto com essa falta de ventilação, os materiais sintéticos para o revestimento do chão, o papel de parede, pinturas e materiais utilizados para isolar, que geralmente contêm uma forte presença de derivados do petróleo, podem contribuir para a prevalência de algumas doenças, de acordo com os especialistas. Além disso, o desconforto térmico ou o ruído são outros fatores de risco importantes, especialmente para determinadas faixas etárias, como crianças e idosos.
Tudo isso faz com que o estudo do ambiente interior tenha um interesse crescente. Para além das características de cada edificação, os fatores que determinam a sua influência sobre a saúde das pessoas são a sua relação com o ambiente exterior e o modo como os espaços habitáveis são utilizados, o que depende em grande parte do comportamento dos seus ocupantes.
Para analisar esses fatores, a equipa de LABSED realiza pesquisas e presta serviços especializados, tanto em laboratório como in situ, a fim de avaliar os riscos potenciais para a saúde e a segurança dos ocupantes das habitações em uso. Os especialistas aconselham e assessoram para mitigar os riscos identificados e propor uma reabilitação eficiente.
A regulamentação que rege a construção tem sido modificada ao longo dos anos em resposta a novos problemas e também graças ao desenvolvimento da investigação e dos conhecimentos científicos. A preocupação por um mínimo de segurança estrutural na habitação foi passando para tentar garantir umas condições de conforto das casas, o que resultou na certificação de isolamento e conforto térmico e acústico e da qualidade do ar, mas “com certeza, no futuro vamos ver uma legislação específica a preservar a saúde dos utentes das moradias”, prevê João Lanzinha.
Projetos de investigação
Atualmente, a equipa do laboratório acabou de iniciar a sua colaboração em um projeto de investigação chamado ‘6.60.6’, que visa realizar várias medições em seis habitações que se correspondem com seis períodos de construção diferentes (década de 1960, 1970, 1980, 1990, 2000 e 2010) por 60 dias. Os cientistas analisarão elementos como metais, fungos e bactérias recolhidos em sacos de aspiradores, além de medirem a temperatura, humidade relativa, compostos orgânicos voláteis e a composição do ar. Desta forma, poderão avaliar e comparar os riscos para a saúde que pode representar cada caso.
Aliás, os investigadores da Universidade da Beira Interior estão a analisar atualmente as condições de conforto dos lares de idosos e creches. Um outro estudo em engenharia civil tenta estabelecer uma metodologia para avaliar o risco para a saúde dos ocupantes das casas. Entre os objetivos do LABSED também está a colaborar na implementação de um amplo consórcio internacional, ainda em fase de avaliação, para investigar “o habitat do homem moderno, o ambiente interior”, onde está programada a participação de outros especialistas portugueses da UBI, Porto e Aveiro, além de investigadores do Japão e dos Estados Unidos.
Ao mesmo tempo, o laboratório coordenado por João Lanzinha dispõe de um avançado equipamento de medição acústica que lhe permite explorar outras linhas de investigação para além das questões diretamente relacionadas com a saúde. Uma delas é o comportamento acústico das igrejas, que foi recentemente estudado no Convento de São Bento de Cástris, em Évora, com o objetivo de definir uma metodologia para tais estudos e tirar conclusões sobre a organização espacial e construtiva de interiores e o seu comportamento acústico.