Investigadores da UVA projetam uma metodologia para aplicar a Inteligência Competitiva
Cristina G. Pedraz/DICYT Às vezes, uma pequena ou média empresa (PME) investe tempo, dinheiro e esforço para desenhar um novo produto e, quando chega o momento de patenteá-lo e lançá-lo ao mercado, descobre que o seu projeto já existia. Em outras ocasiões, o produto chega a ser patenteado e aparece no mercado, mas depois de um tempo falha.
Reduzir esses riscos na I&D tanto quanto possível e, em última instância, otimizar recursos é a principal finalidade da ‘Inteligência Competitiva’. Isto é uma ferramenta empresarial que tem o objetivo de conhecer profundamente a situação interna da própria empresa por meio da gestão do conhecimento, monitorar o ambiente através da vigilância ou previsão tecnológica e transmitir essa informação aos responsáveis para apoiá-los na tomada de decisões.
Investigadores do Departamento de Gestão de Empresas da Faculdade de Engenharia Industrial da Universidade de Valladolid (UVA) desenvolveram uma metodologia para aplicar a Inteligência Competitiva de forma simples, focada a empresas com recursos limitados, tanto as PME como grupos de investigação pequenos, para torná-los mais competitivos.
“Analisámos o estado atual das metodologias de Inteligência Competitiva e a vigilância tecnológica e criámos a nossa própria. É uma metodologia simples para que uma pequena empresa ou um grupo de investigação não tenha que investir muito tempo e esforço para conhecê-la”, explicam Pedro Sanz, professor da Faculdade de Engenharia Industrial da UVA, e Jesús Galindo, quem tem em andamento a sua tese de doutoramento sobre este assunto.
O modelo desenhado apoia-se em três pilares fundamentais: a gestão do conhecimento, a monitorização tecnológica e a gestão de desempenho e resultados, ferramentas que são usadas separadamente em Inteligência Competitiva e que, através desta nova metodologia, são agrupadas e interligadas para melhorar todo o processo.
A gestão do conhecimento é o ponto de partida. “É preciso conhecer-se a si próprio (à empresa), aos fornecedores, clientes, ambiente, etc. para saber o que precisa a empresa ou grupo de investigação, pois muitas vezes é desenvolvida uma tecnologia de vigilância, que é o segundo passo, sem ter claras as necessidades”, asseguram.
Portanto, eles desenvolveram um questionário e um método para a sua realização: na primeira visita à entidade são feitas perguntas genéricas sobre as necessidades da empresa. As respostas são analisadas e organiza-se uma segunda visita, com questões mais específicas, que são novamente examinadas. A partir dessas análises obtêm-se uns resultados que indicam para onde devem ser dirigidos os esforços em I&D.
Previsão tecnológica
Uma vez que se têm claros os requisitos, passa-se à previsão (ou vigilância) tecnológica, um processo organizado de recolha e análise de informação científica e tecnológica através do qual são localizadas as principais tendências tecnológicas, os desenvolvimentos mais recentes e os potenciais parceiros e competidores. Toda esta informação é estudada e disponibilizada para os responsáveis pela tomada de decisões dentro da organização, quem podem direcionar os seus planos e estratégias tecnológicas de forma menos arriscada para antecipar as mudanças.
Na metodologia desenvolvida pelos investigadores da UVA, a vigilância tecnológica é realizada por meio do estudo de bases de dados de patentes e artigos científicos. “Fizemos uma pesquisa de todos os softwares e ferramentas que podem ser usadas para investigar as patentes, que são produtos que já estão perto do mercado, a fim de escolher a mais adequada em função das necessidades e dos recursos disponíveis. Os resultados são apoiados por artigos de investigação, que são geralmente uma fase prévia às patentes. Deste modo, podemos antecipar o que estará no mercado em 10 ou 15 anos e ganhar uma vantagem competitiva”, comentam.
Por exemplo, quando uma empresa ou um grupo de investigação quer investir em um novo produto e quer saber se pode realmente ter futuro ou não, a análise das patentes pode ser um elemento esclarecedor. “Se o crescimento do número de patentes não for exponencial, ou seja, se não crescer anualmente, significa que o produto está em declínio e, portanto, não é conveniente investir nessa área de inovação”, explicam.
Tomada de decisões
O passo final é a gestão do desempenho: a comunicação dos resultados e a tomada de decisão. “Propusemo-nos mostrar as informações mais relevantes para as pessoas que haveriam de tomar as decisões em uma só folha, em vez de entregar um relatório longo, para que não tiverem de investir muito tempo. Nesta fase, entra em jogo o fator humano e tratamos de facilitar a tomada de decisões ou, pelo menos, orientá-la”.
Para testar a metodologia, os investigadores aplicaram-na a uma PME real dedicada a fornecimentos industriais, com bons resultados. Esta experiência permite-lhes ajustar todos os elementos e completar o aperfeiçoamento do modelo.