Salud España , Salamanca, Martes, 05 de marzo de 2013 a las 10:56

Identificados dois tipos de células responsáveis pelos tumores cerebrais mais agressivos

O Centro de Investigação do Câncer, em Salamanca, e o Hospital de Valdecilla, na Cantabria, encontram mecanismos que poderiam estabelecer as bases de tratamentos capazes de evitar a recorrência do glioblastoma

José Pichel Andrés/DICYT Uma pesquisa determinou a existência de dois tipos de células-tronco tumorais que criam os glioblastomas, os tumores cerebrais mais agressivos. De um lado está um tipo de células iniciadoras do câncer presente no centro da massa tumoral, enquanto que um outro grupo de células, com maior mobilidade, situa-se na periferia do tumor, dispersando-se e, como estas células não podem ser extirpadas através de cirurgia, acabam por acarretar recidivas. A descoberta foi publicada na revista científica Stem Cells e representa o primeiro passo para encontrar tratamentos que impeçam a reprodução do câncer.

 

Há tempos os especialistas observam que existem células que desencadeiam o câncer, as quais se compartam como células-tronco, isso é, que geram as demais células tumorais. O objetivo deste trabalho era determinar se, no caso do glioblastoma multiforme, todas as células iniciadoras eram iguais (os cientistas as chamam GICs, do inglês Glioblastoma Initiating Cells) e o resultado foi a existência de dois grupos muito diferenciados, conforme explicou à DiCYT Atanasio Pandiella, subdiretor do Centro de Investigação do Câncer (CIC) de Salamanca, um dos participantes desta pesquisa liderada pelo Hospital Universitário Marquês de Valdecilla, da Cantabria.

 

“Estudamos a área central do tumor e a área periférica, isolando as células iniciadoras da massa tumoral em ambos lugares, comprovando que têm propriedades diferentes”, comenta Pandiella. As células da parte externa do tumor são mais agressivas, migram e se movem melhor. Esta informação, até agora desconhecida, explica que nos glioblastomas se produzam muitas recidivas, já que por se tratar de um tecido tão delicado como o cérebro, os cirurgiões que operam o tumor extirpam somente a massa tumoral central. No entanto, as GICs periféricas se dispersam com facilidade a outras partes sadias do cérebro e podem reproduzir o problema com rapidez.

 

“Não as detectamos, mas se deslocam a áreas próximas, de modo que, quando se extirpa o tumor algumas já se moveram e provocam recidivas”, indica o especialista. As células-tronco do centro do tumor são mais numerosas, mas não se movem tanto, de modo que representam um problema menor com relação a estas células exteriores, que voltam a iniciar a doença.

 

Características de diferenciação

 

“Realizamos uma análise das características de ambos tipos de células e verificamos que as células da periferia têm ativados sistemas que lhes permitem mover-se com muito mais eficácia”, afirma o pesquisador do Centro do Câncer.

 

Dentre estas chaves está a presença de proteínas da família Rac, que participam na migração celular e que, neste caso, estão muito mais ativas nas GICs da periferia. Ademais, existe outra proteína importante no momento de distinguir entre os dois tipos de células: é a chamada p27, tratando-se de um supressor tumoral, de modo que quando se apresenta em níveis elevados, as células não se dividem. Neste caso, nas células do centro do tumor aparece a p27 de forma muito ativa, enquanto que “nas células iniciadoras da área exterior do tumor estão em menor quantidade, o que estimula sua proliferação e mobilidade”.

 

Os pesquisadores descobriram também a importância de algumas proteínas da membrana da células chamadas integrinas, que intervêm nas interações com as células vizinhas, sendo fundamentais para os deslocamentos em algumas ocasiões.

 

Ainda não existem medicamentos capazes de inibir a Rac, nem fazem proliferar a p27, por exemplo, mas conhecer estes mecanismos é o primeiro passo para conseguir uma terapia que evite, ou pelo menos diminua, as recidivas nos glioblastomas.

 

Estes resultados procedem de um extenso trabalho de colaboração entre vários centros que se focou nas amostras obtidas de três pacientes. Ademais, também foram realizados experimentos in vitro e com animais para comprovar os resultados e entender como se comportam estas moléculas.

 

Desenvolvimento de terapias

 

O próximo passo seria desenvolver terapias contra as células iniciadoras do tumor na periferia do glioblastoma. “Conhecendo os mecanismos de disseminação podemos lutar contra eles”, indica Pandiella, “é preciso tentar eliminar estas células ou pelo menos fazer com que não se proliferem e não se estendam”. Como menor dos males, enquanto continue sendo necessária a cirurgia para eliminar o tumor, os cientistas confiam em poder definir melhor a área a ser eliminada.

 

Alguns tipos de câncer, como o de mama ou de pulmão, acabam com a vida do paciente quando se produz uma metástase no cérebro, mas neste caso “já está no cérebro”, indica o especialista para indicar a gravidade do glioblastoma, o mais agressivo dos gliomas ou tumores cerebrais, de modo que é necessário continuar avançando nesta linha.

 

Referência bibliográfica

 

Ruiz-Ontañon P, Orgaz JL, Aldaz B, Elosegui-Artola A, Martino J, Berciano MT, Montero JA, Grande L, Nogueira L, Diaz-Moralli S, Esparís-Ogando A, Vazquez-Barquero A, Lafarga M, Pandiella A, Cascante M, Segura V, Martinez-Climent JA, Sanz-Moreno V, Fernandez-Luna JL. Cellular Plasticity Confers Migratory and Invasive Advantages to a Population of Glioblastoma-initiating Cells that Infiltrate Peritumoral Tissue. Stem Cells. 2013 Feb 8. doi: 10.1002/stem.1349