Excesso de peso em jovens influi no seu ânimo, autoestima e apoio percebido
José Pichel Andrés/DICYT Adolescentes com obesidade ou sobrepeso têm um estado de ânimo significativamente menor e uma autoestima ainda muito menor do que aqueles com peso normal. Também percebem menos apoio social, segundo os dados de uma investigação realizada pela Faculdade de Psicologia da Universidade Pontifícia de Salamanca (UPSA).
O estudo foi realizado em 2014, com 92 jovens entre 15 e 22 anos matriculados no ensino secundário em Salamanca, embora a maioria deles tinha entre 16 e 17 anos. 7,6 % dos participantes sofria de obesidade e 21,7 %, de sobrepeso, de forma que quase um terço tinha algum tipo de excesso de peso. Os resultados, que foram apresentados em um congresso especializado, são claros: “A medida que aumenta o peso, baixa a autoestima, aumentam os sintomas de depressão e diminui o apoio social que eles percebem", expõe a DiCYT María Ángeles Gómez, investigadora da UPSA e responsável por este trabalho junto com Gloria Fernández.
A investigação liga uns níveis elevados de índice de massa corporal (IMC) ―que relaciona a massa e altura de uma pessoa― com alterações psicológicas e sociais; aliás, não se encontraram diferenças significativas entre sexos. “A menor peso, maior é a autoestima e isso é um perigo na adolescência, uma vez que pode levar a transtornos alimentares, como anorexia e bulimia”, assegura a especialista.
Ao estarmos imersos em uma sociedade que idolatra a magreza, é provável que estes rapazes vulneráveis se agarrem a qualquer dieta das que prometem milagres, mas que realmente são perigosas para a saúde.
Um outro dado curioso é que os jovens que têm um peso menor do normal, que neste estudo é 19,6 % do total, têm níveis de autoestima e aceitação social semelhantes aos de peso normal, o qual parece paradoxal para os especialistas. “Pode-se pensar que algumas das pessoas com peso inferior poderiam estar a desenvolver algum transtorno do comportamento alimentar. No entanto, têm um alto nível de autoestima”, diz a professora.
Este aspecto pode estar relacionado ao apoio social recebido pelos jovens. Aqueles com um peso correspondente ao seu tamanho, e até mesmo aqueles que estão magros demais, não mostram nenhum problema, enquanto aqueles que estão com sobrepeso ou obesidade afirmam se sentirem sozinhos, serem ridicularizados ou não terem bons amigos no seu ambiente imediato, entre outras respostas. Em resumo, há sintomas depressivos diretamente ligados ao peso.
Possível conexão com o ‘bullying’
Com estes dados, agora os investigadores planejam um novo estudo em idades mais precoces e que tenha em conta um novo fator. “Pensamos que os jovens com excesso de peso podem estar a sofrer mais o ‘bullying’ ou assédio escolar”, comenta María Ángeles Gómez. Para testar esta hipótese, nos próximos meses estudarão uma centena de alunos de 5º e 6º ano do ensino básico e de 1º ano do ESO (Ensino Secundário Obrigatorio, na Espanha), ou seja, rapazes entre 10 e 12 anos, aproximadamente.
Assim, continuará uma linha de investigação que proporcionou nos últimos anos muitas informações sobre os aspectos psicológicos e sociais ligados à aparência física. Por exemplo, em um estudo prévio com adolescentes descobriram que a distorção da imagem corporal aumenta durante períodos de estresse, especialmente durante as épocas de exames. Neste caso, ser mulher e ter 18 anos revelaram-se como dois fatores-chave para o estresse afetar a tal autoperceção.
Desenvolver novas estratégias
Os especialistas também pensam sobre a forma de usar estes resultados para encontrar soluções, considerando que durante anos nas campanhas para a prevenção de transtornos alimentares informava-se aos adolescentes dos perigos da anorexia e bulimia mas esta abordagem do problema não teve êxito nenhum. “Se não se incluem estratégias para a gestão e melhora da autoestima e da imagem corporal, estaremos fadados ao fracasso", assegura a investigadora da Faculdade de Psicologia.
Em sua opinião, os dados destas investigações hão-de servir para que toda a sociedade reflita sobre os valores que, consciente ou inconscientemente, está a transmitir aos jovens. “É importante distinguir entre um problema de saúde e uma preocupação estética”, comenta, porque muitas vezes a pressão vem da própria família, que tenta evitar um excesso de peso nas crianças e pode estar a condicionar inadvertidamente o seu comportamento. De facto, ao contrário do que possa parecer, os jovens com estes problemas são os mais preocupados com o peso e recorrem frequentemente às dietas restritivas.
“Alguns destes adolescentes terão problemas de saúde por causa de sua condição física”, advirte María Ángeles Gómez, “mas teremos de adicionar a isto problemas psicológicos e sociais”, caso não se previna a tempo.