Ciencia España , Salamanca, Viernes, 22 de febrero de 2013 a las 13:30

Estudo sobre radiação cósmica aporta dados a futuras missões espaciais tripuladas

O pesquisador espanhol Manuel Aguilar Benítez de Lugo, participa em Salamanca do Encontro Fronteiras da Ciência ‘Tempo da Física’

JPA/DICYT Um dos grandes problemas que impedem que o ser humano empreenda grandes aventuras espaciais, como uma viagem a Marte, é o desconhecimento dos raios cósmicos, partículas do espaço exterior de grande energia que poderiam ser perigosas para os astronautas se submetidos a uma exposição prolongada. Atualmente, um experimento desenvolvido na Estação Espacial Internacional (ISS, em inglês) investiga as características desta radiação, conforme explicou no dia 20 de fevereiro em Salamanca o pesquisador espanhol Manuel Aguilar Benítez de Lugo, um dos principais responsáveis por este grande projeto, que envolve 600 especialistas de 16 países.

 

Em maio de 2011 a balsa Endeavour levou até a ISS o instrumento AMS (Espectrômetro Magnético Alpha), um detetor de 7,5 toneladas desenhado para realizar experimentos de física de partículas no contexto de um entorno espacial agressivo. Este aparelho pode realizar “medidas muito precisas e de longa duração da radiação cósmica”, explicou em declarações coletadas pela DiCYT Manuel Aguilar Benítez de Lugo, que foi diretor de Pesquisa Básica do Centro de Investigações Energéticas, Ambientais e Tecnológicas (Ciemat) até outubro, quando começou a trabalhar no Centro Europeu de Investigação Nuclear (CERN).

 

“Em quase 20 meses colecionamos 30.000.000 de raios cósmicos e os estamos estudando”, indica. O interesse prático desta pesquisa foca-se em futuros projetos espaciais. “É preciso saber bem quais são os raios cósmicos, sua intensidade e suas características para saber a intensidade que será encontrada pelos astronautas em missões tripuladas de longa duração”, afirma.

 

Matéria escura e antimatéria

 

No entanto, o experimento tem também um aspecto mais teórico situado na vanguarda da pesquisa científica. “O estudo dos raios cósmicos serve para pesquisar a matéria escura, que é a parte mais abundante da matéria existente no universo”. Chama-se escura porque, diferentemente da matéria ordinária, não emite, nem absorve radiação eletromagnética.

 

Por outro lado, outro objetivo é detectar antimatéria cósmica no Universo. “Segundo a teoria do Big Bang, quando o Universo surgiu há cerca de 14.000.000 de anos, foi necessário criar uma quantidade igual de matéria e antimatéria, mas na área próxima a nossa galáxia não encontramos antimatéria e não existe uma explicação científica para tato. O que queremos é estender esta busca aos confins do Universo”, agrega.

 

O pesquisador aportou todos estes dados e adiantou que em aproximadamente 15 dias sairá uma publicação científica importante sobre o experimento do detetor AMS na Estação Espacial Internacional. Este instrumento é controlado pelo CERN, em Genebra (Suíça). A partir deste local “somos capazes de transmitir ordens para modificar alguns parâmetros de funcionamento do instrumento”, indica o especialista. Os dados coletados pela ISS são transmitidos a centros de pesquisa situados no Novo México e no Alabama (Estados Unidos) e desde aí são enviados ao CERN para sua análise. Por parte da Espanha, além do Ciemat, participa o Instituto Astrofísico das Canárias (IAC).

 

Deste grande projeto internacional participam pesquisadores e centros da Espanha, México, Portugal, Estados Unidos, China, França, Russia, Finlândia, Dinamarca, Taiwan, Suíça, Itália, Coréia do Sul, Países Baixos e Alemanha.

 

Dois dias de Física

 

A conferência de Manuel Aguilar Benítez de Lugo, ex vice-presidente do CERN, é só uma das oferecidas nos dias 20 e 21 de fevereiro no Encontro Fronteiras da Ciência ‘Tempo da Física’ da Fundação Duques de Soria, realizado alternativamente na Universidade de Salamanca e na Universidade de Valladolid, que neste ano conta com mais de cem participantes e está apoiado pela Cátedra Iberdrola, pela Oficina do VIII Centenário da Universidade de Salamanca, pelo Instituto Universitário de Física Fundamental e Matemática da instituição acadêmica de Salamanca e pela Fundação Geral da Universidade de Valladolid.

 

O presidente da Fundação Duques de Soria, Rafael Benjumea Cabeza de Vaca, assegurou que uma das missões desta instituição é tentar criar inter-relações e contatos entre distintas pessoas do mundo universitário e científico. Ademais, mostrou-se otimista diante das perspectivas da ciência espanhola, apesar da crise econômica, assegurando que é necessário realizar uma análise de quais são os campos científicos de maior interesse e “com uma idéia muito clara, de que a Ciência deve servir para o desenvolvimento dos países”. Assim, considera que é importante a transferência do conhecimento para a criação de riqueza.