Nutrition Spain , Salamanca, Wednesday, April 03 of 2013, 12:05

Estudo avalia o impacto social do bioetanol

A revista ‘Energy Policy’ publica um trabalho da Universidade de Salamanca que agora se focará na usina de Babilafuente

José Pichel Andrés/DICYT Uma pesquisa do Instituto de Estudos Sociais da Ciência e da Tecnologia (eCyT) da Universidade de Salamanca está avaliando os impactos sociais do etanol como combustível. O primeiro trabalho fruto desta linha de pesquisa acaba de ser publicado na revista Energy Policy. Após revisar pesquisas anteriores neste campo, o estudo indica a necessidade de que os projetos relacionados com o bioetanol não só considerem as repercussões econômicas e ambientais de sua produção, mas também as sociais.

 

“Ainda falta muito para entender qual é a dimensão social dos biocombustíveis. Academicamente faltam metodologias que analisem este âmbito de modo sistemático e harmônico”, afirma em declarações a DiCYT Barbara Esteves Ribeiro, pesquisadora brasileira do eCyT que em seu projeto de tese propõe um marco teórico para realizar esta avaliação. “Poucos trabalhos avaliam as questões sociais dos biocombustíveis, diante de outras análises, como as econômicas, de modo que é necessário estudar a dimensão social do bioetanol, o biocombustível mais produzido no mundo”, afirma.

 

A publicação da Energy Policy reúne os resultados da análise de conteúdo de 90 artigos científicos de revistas internacionais que relacionam aspectos sociais e o ciclo de vida do etanol, começando pelas fases de produção dos insumos (nesta caso, plantações destinadas à produção do biocombustível), até o uso do combustível pelo consumidor, passando por todos os processos intermediários de conversão.

 

Os atores sociais envolvidos são muito diversos como, por exemplo, os agricultores donos da terra, aqueles que trabalham para estes, os trabalhadores das usinas de produção de bioetanol, os que transportam o combustível, além de muitas outras pessoas que participam da cadeia de valor e prestam serviços em algum ponto do processo. A estes é preciso agregar atores indiretos, como os membros das comunidades próximas às plantações ou às usinas de produção, bem como a sociedade de modo geral, que desenha planos locais, nacionais ou internacionais sobre o desenvolvimento desta forma de energia.

 

“Verifiquei que existem muitos impactos e que estes são difíceis de quantificar. Pode ser que o combustível não seja sustentável do ponto de vista social, ainda que o seja do ponto de vista econômico e ambiental”, indica Barbara Esteves. Por exemplo, para algumas sociedades indígenas do Brasil uma planta de bioetanol pode representar um deslocamento e a destruição de seu modo de vida. Contudo, também é possível que ocorra o contrário: em determinados lugares, uma usina de bioetanol pode significar um impulso ao desenvolvimento da comunidade, fomentando a construção de escolas ou centros de saúde.

 

Se no âmbito acadêmico ainda não existe uma metodologia para avaliar estes fatores, “no político este assunto está completamente esquecido, não entra na avaliação da sustentabilidade dos combustíveis”, apesar de a produção de bioetanol estar relacionada com a segurança alimentar, influenciando na produção de cultivos destinados aos alimentos, ou com a segurança da água, utilizada em grandes quantidades por estas matérias primas e nas usinas de produção.

 

A aceitação pública da tecnologia é uma das chaves para avaliar o impacto social. Cada pessoa, em função de suas circunstâncias, pode estar a favor ou contra de um modo diferente, mas esta opinião cidadã está marcada por mudanças sociais e culturais provocadas em cada lugar. Assim, antes de realizar um projeto com estas características “seria ideal” avaliar essa dimensão pública.

 

Babilafuente

 

O próximo passo desta linha de pesquisa será entrevistar os habitantes de Babilafuente, localidade de Salamanca em que existe uma usina de bioetanol, para saber o que pensam sobre seu impacto.

 

Nesta consulta será considerada a mudança tecnológica que representa passar da primeira geração de bioetanol, na qual se utiliza como matéria prima cultivos também destinados à alimentação, como a cevada, o milho ou a beterraba, à segunda geração de bioetanol, na fase de pesquisa e melhora que permitiria utilizar outros recursos, como a madeira. “Devemos avaliar a probabilidade, a reversibilidade”, indica a especialista, que destaca o valor desta linha de pesquisa para a tomada de decisões políticas.

 

Referência bibliográfica

 

Barbara Esteves Ribeiro. Beyond commonplace biofuels: Social aspects of ethanol. Energy Policy, 2013. DOI: http://dx.doi.org/10.1016/j.enpol.2013.02.004