Duas cepas de bactérias aumentam a produção e qualidade de tomates e pimentões
José Pichel Andrés/DICYT A Universidade de Salamanca publicou um artigo na prestigiada revistas científica Plos One que representa um novo avanço na consecução de uma agricultura sustentável e viável graças à biotecnologia. O grupo de investigação reconhecido (GIR) ‘Interações Microorganismo Planta’ isolou duas cepas de bactérias do gênero Rhizobium que têm efeitos positivos sobre o crescimento e produção de tomate e pimentão, o que permitirá diminuir o uso de fertilizantes químicos no cultivo destes produtos.
Durante anos esta equipe de pesquisa dedicou-se a estudar a simbiose entre os microorganismos do gênero Rhizobium e as plantas leguminosas, que se estabelece através da formação de nódulos nas raízes destes vegetais e tem benefícios mútuos para plantas e bactérias. No entanto, está menos estudado o papel que pode ter este gênero de microoganismos em associação com plantas não leguminosas, como é o caso do tomate e do pimentão, conforme explicaram os pesquisadores em declarações a DiCYT.
A pesquisa publicada em Plos One demonstrou que duas cepas de Rhizobium isoladas de duas leguminosas, o trevo e o feijão, “apresentam uma boa atividade como promotoras do crescimento vegetal in vitro e que dão bons resultados na produção não apenas das plantas hospedeiras, mas também em tomates e pimentões”, comenta Encarnación Velázquez, pesquisadora que também participa como autora do artigo.
Definitivamente, a inoculação destas cepas consegue aumentar o desenvolvimento e produção das duas plantas. “No caso do pimentão, trata-se de um aumento muito significativo em quantidade, enquanto no caso do tomate aumenta-se sobretudo a qualidade”, afirma a cientista. Esta qualidade é estabelecida através de degustações e, de uma forma mais objetiva, através da medida de componentes como o potássio, o fósforo, o nitrogênio ou a presença de componentes fenólicos, substâncias que se associam com uma maior proteção a doenças cardíacas.
Os cientistas conhecem os mecanismos que provocam estes efeitos positivos para a planta. Por exemplo, estas duas cepas produzem fitohormônios e também aumentam na planta os níveis de Nitrogênio e Fósforo, “este último um nutriente muito importante, responsável pela qualidade organolépticas como o sabor e a cor”, indica Raúl Rivas, outro pesquisador da equipe. Ademais, uma delas também produz compostos sideróforos, que captam ferro e dificultam o crescimento de fundos e outros microorganismos patógenos para a planta.
Alternativa aos fertilizantes nitrogenados
O mais importante desta linha de pesquisa é que abre uma alternativa para praticar uma agricultura ecológica segura. “Não se adicionam fertilizantes nitrogenados aos cultivos ecológicos, mas esterco como adubo, o que poderia gerar problemas sanitários como a presença de cepas patogênicas de Escherichia coli, a bactéria que provocou a crise alimentar da Alemanha, que a princípio informou-se que procedia de pepinos importados da Espanha, mas que finalmente foi atribuída ao consumo de brotos de fenacho procedentes do Egito.
“Tentamos substituir a utilização massiva de abonos químicos por microorganismos benéficos que forneçam à planta os nutrientes que necessita”, indica Pedro Mateos, outro pesquisador da equipe. Estas cepas encontram-se na natureza, mas seus efeitos devem ser selecionados e estudados a fim de conseguir inoculantes seguros que possam ser aplicados em todos os tipos de cultivos. Neste caso, pesquisou-se em plantas leguminosas, mas o gênero Rhizobium é bem conhecido, sobretudo por suas interações com as leguminosas.
Ademais, trata-se de microorganismos amplamente estudado por este e outros grupos de pesquisa do mundo nas últimas décadas, de modo que está comprovada sua segurança. “Estamos falando de interações benéficas entre plantas e microorganismos que aportam às plantas substâncias que as fazem crescer melhor, nutrir-se melhor e defender-se de patógenos”, afirma Eustoquio Martínez, principal pesquisador do grupo.
A agricultura do futuro exige eliminar gradualmente o uso de fertilizantes químicos pela contaminação ambiental que provocam e porque consomem muitos recursos para sua fabricação. De fato, a normativa européia aposta por uma agricultura sustentável que somente poderá ser desenvolvida através da biotecnologia.