Salud España , Salamanca, Martes, 20 de noviembre de 2012 a las 13:07

“Conhecer o microbioma humano pode ajudar a combater doenças auto-imunes e a obesidade”

Francisco Guarner, coordenador espanhol do Projeto Internacional do Microbioma Humano, encerrou no dia 16 de novembro em Salamanca o IV Congresso de Microbiologia Industrial e Biotecnologia Microbiana

José Pichel Andrés/DICYT Francisco Guarner, pesquisador do Hospital Call d’Hebron, de Barcelona, é o coordenador espanhol do Projeto Internacional do Microbioma Humano, que busca conhecer o genoma das bactérias presentes no intestino das pessoas. Nesta manhã falou desta iniciativa em Salamanca, na conferência de encerramento do IV Congresso de Microbiologia Industrial e Biotecnologia Microbiana. Em uma entrevista concedia a DiCYT, o especialista destacou a importância de conhecer melhor estes microorganismo para combater doenças auto-imunes e, provavelmente, outros problemas, como a obesidade.

 

Conforme explicou, o conjunto das bactérias que temos em nosso corpo era tradicionalmente conhecido como microflora, porque as células bacterianas se pareciam às vegetais e pensava-se que eram parte do reino vegetal. No entanto, comprovou-se que isto não é assim e agora se utiliza o termino microbiota para designar as comunidades de microorganismos que vivem em um nicho ecológico concreto, neste caso, “o microbioma humano são os micróbios associados ao nosso corpo”.

 

“Nos anos 50 e 60 comprovou-se que a microbiota que vive em associação com algum animal ou vegetal facilita as funções biológicas desse ser vivo e coloca seus genes a serviço do organismo hospedeiro. Assim, temos um genoma, que é o conjunto de genes das células humanas, e um microbioma, que é o conjunto de genes que nos aportam os microorganismos que vivem conosco e contribuem a nossa vida”, esclarece o pesquisador.

 

De fato, “os animais em condições de assepsia total, sem microorganismos, têm que comer mais para crescer menos, e isto nos faz pensar que a microbiota do intestino ajuda a extrair os nutrientes dos alimentos que ingerimos, o que se sabe com base em experimentos com animais”, comenta Guarner. Ademais, contribui para o desenvolvimento do sistema imunológico, que é o conjunto de mecanismos dos seres vivos que reconhece o meio externo e o defende de agressões. Precisamente, “nos últimos anos estão surgindo erros no sistema imunológico, que reage contra elementos que na verdade não nos atacam, como o glúten. Estas reações auto-imunes não existiam há 100 anos, de modo que pensamos que está havendo uma disparidade entre a microbiótica humana e o sistema imunológico, e que provavelmente existe uma colonização distinta de microorganismos”, agrega.

 

Em um primeiro momento, os cientistas pensaram que estes problemas se deviam a um excesso de higiene, que “descoloniza” nosso corpo de certos microorganismos, mas agora já não se acredita que seja exatamente esse o problema, mas sim que “a higiene faz com que sejamos colonizados com micróbios que são resistentes às condições impostas. Isso é, não passamos de um mundo sujo a um mundo mais limpo, mas eliminamos patógenos e não patógenos, de modo que nos faltam os colonizadores comuns  ainda não adaptados”.

 

Neste sentido, o Projeto Microbioma Humano pode gerar informações “que nos ajudem a entender a composição das bactérias que estão associadas a nossa vida e suas funções, de modo que possamos evitar os transtornos do sistema imunológico”. Do mesmo modo, existe a suspeita de que as bactérias podem estar relacionadas com a obesidade, porque ajudaram a aproveitar os alimentos em épocas em que não se tinha acesso a uma alimentação rica em energia. “Talvez a epidemia de obesidade atual também possa ser reconduzida, modificando o sistema de colonização”, comenta o especialista.

 

Do Projeto Microbioma Humano participam a União Européia, os Estados Unidos, Canadá, China, Austrália, Japão, Coréia e, atualmente, a Russia está em fase de associação. Todos compartilham dados, porque este trabalho precisa de microbiólogos e geneticistas, mas também de matemáticos e informáticos que ajudem a interpretar os dados, bem como imunologistas, para estudar as relações entre o hospedeiro e o hóspede, além de pesquisadores clínicos para identificar as doenças relacionadas com a microbiota.

 

Na Espanha colaboram o Hospital Vall d’Hebron, o Barcelona Supercomputing Center e a sede da empresa UCB Pharma em Madri, que pesquisa como a microbiota influi na resposta a medicamentos, porque alguns são efetivos em umas pessoas e não em outras, e os microorganismos podem estar relacionados com isso. “O organismo humano tem um órgão destinado a acumular bactérias, que é o cólon, e quer que estas bactérias estejam aí, porque exercem funções que nos favorecem”, resume Guarner.

 

Alimentos probióticos e prebióticos

 

Ao aumentar o conhecimento sobre as funções das bactérias de nosso corpo, nos anos 90 surgiu a idéia de que “não só devemos alimentar nosso corpo, mas também as bactérias que vivem conosco”. Por isso apareceram os alimentos probióticos, que contém bactérias que ajudam a reforçar o sistema imunológico, e alimentos prebióticos, que estimulam o crescimento no cólon destas bactérias benéficas.

 

Francisco Guarner é também presidente da Sociedade Espanhola de Probióticos e Prebióticos (SEPyP) e, com relação a este assunto, explica que “algumas empresas trabalharam muito bem, utilizaram bactérias tradicionais na alimentação e analisaram seu perfil de atividades através de estudos bem estruturados”. No entanto, “também houve empresas que colocaram no mercado produtos sem nenhuma comprovação”. Desse modo, os especialistas espanhóis elaboraram um documento de consenso sobre os alimentos probióticos no qual afirmam que “um produto deve explicar quais probióticos contém, em quais quantidades estão e quais estudos foram realizados para demonstrar um efeito concreto, ainda que modesto”, comenta. Para janeiro de 2013 espera ter um documento de consenso semelhante sobre os prebióticos.

 

Finalmente, sobre o IV Congresso de Microbiologia Industrial e Biotecnologia Microbiana, realizado nos dias 14 a 16 de novembro em Salamanca, Guarner considera que a Espanha “tem muitos grupos de pesquisa trabalhando neste campo” e acredita que os recortes na pesquisa pública podem afetá-los, mas se mostra otimista. “Não sabemos o que acontecerá no futuro, mas existem grupos espanhóis em redes européias e outros que colaboram com empresas que querem desenvolver produtos novos. Estas duas fontes não sofreram cortes e provavelmente isto pode fazer com que mantenhamos nossa posição de liderança na Europa e no mundo”.