Health Spain , Salamanca, Wednesday, January 02 of 2013, 16:12

Comprovada a ação antitumoral de antagonistas da substância P

Pesquisadores do Instituto de Neurociências de Castela e Leão testam em roedores a eficácia de compostos químicos que atuam sobre os receptores do neurotransmissor

José Pichel Andrés/DICYT A substância P é uma molécula do sistema nervoso que favorece a proliferação das células tumorais. Pesquisadores do Instituto de Neurociências de Castela e Leão (Incyl) da Universidade de Salamanca comprovaram que utilizando substâncias antagonistas que se unem aos receptores da substância P nas células tumorais e os bloqueiam, consegue-se induzir a morte destas células tumorais e, portanto, evitar a progressão do câncer. De momento, o método foi testado em roedores.

 

“As células tumorais sintetizam a substância P e a liberam ao exterior, mas esta molécula também chega a partir das terminações dos nervos, porque se encontra distribuída por todo o sistema nervoso”, explica Rafael Coveñas, pesquisador do Incyl, em declarações a DiCYT. De fato, a substância P é um neurotransmissor com funções importantes como transmitir a dor.

 

No entanto, no câncer a ação da substância P favorece a proliferação das células tumorais. Proceda destas mesmas células ou das terminações nervosas, a substância P se une aos receptores NK1, que se encontra na membrana plasmática das células, e isto se traduz em um “aumento da atividade mitogênica”, isso é, que favorece a mitose, o começo da divisão celular e, portanto, a multiplicação das células tumorais.

 

Alguns dados chamaram a atenção dos cientistas antes de começar a pesquisa. “Há uma sobre-expressão desse receptor NK1 nas células tumorais quando comparadas com o mesmo tipo celular, mas não tumoral e, ademais, quanto mais maligno é um tumor, maior é a expressão do receptor NK1 encontrada”, assegura o especialista.

 

Por isso a idéia inicial dos pesquisadores da Universidade de Salamanca era utilizar substâncias antagonistas que se unem aos receptores, nesta caso a NK1, e bloqueiam a ação da substância P. O objetivo destes experimentos era “ver o que acontece”, indica Rafael Coveñas, mas os resultados superaram as expectativas.

 

“Sem esperar, verificamos que os antagonistas exercem uma ação antitumoral. Isso é, não somente bloqueiam a ação mitogênica da substância P, como também propiciam o surgimento de células mortas nos experimentos”, indica. A uma determinada concentração das substâncias antagonistas, estar-se-ia induzindo um processo de apoptose, a morte celular programada que desaparece nas células envolvidas no câncer.

 

Contra a metástase e a angiogênese

 

Ademais, a substância P não só se une ao receptor NK1 e aumenta a proliferação das células tumorais, mas também facilita sua migração, isso é, favorece a metástase, segundo os estudos de outros grupos de pesquisa, e a angiogênese, a formação de novos vasos sangüíneos que nutrem o tumor. Assim, nos experimentos do Incyl, os antagonistas da substância P também exercem uma ação antiangiogênica e antimigratória o que, unido à apoptose, os convertem em uma promissora ferramenta para lutar contra o câncer.

 

Até agora os testes foram realizados com ratos e os resultados foram muito positivos. Normalmente, passar da pesquisa com ratos a ensaios clínicos é um salto muito grande e requer muitos anos de trabalho. No entanto, este estudo apresenta uma vantagem: uma das substâncias antagonistas testada é Aprepitant, composto químico já utilizado com pessoas para o tratamento de náuseas e vômitos. Isso significa que já foi demonstrada sua segurança e, seguir adiante com esta linha de pesquisa para sua possível aplicação contra o câncer, reduziria os prazos para sua aprovação. Se fosse pouco, o uso do Aprepitant poderia ter, em teoria, outros efeitos positivos, porque ao bloquear os receptores NK1 e evitar assim a ação da substância P, inibe-se a transmissão do cheiro.

 

Nos últimos tempos os cientistas do Incyl desenvolveram esta linha de pesquisa em diversos tipos de tumores e em todos os casos as conclusões são semelhantes, refletidas em publicações de diversas revistas científicas. A mais recente foca-se no câncer de pulmão e apareceu na revista Peptides. No entanto, como em toda pesquisa biomédica básica, advertem que a obtenção de um medicamento antitumoral efetivo ainda está longe.

 

Referência bibliográfica

 

"The substance P/neurokinin-1 receptor system in lung cancer: Focus on the antitumor action of neurokinin-1 receptor antagonists". Peptides. 2012 Dec;38(2):318-25. DOI: 10.1016/j.peptides.2012.09.024.