Cem anos da Teoria da Deriva Continental: o porquê dos oceanos e continentes
Cristina G. Pedraz/DICYT Em 1912 o cientista alemão Alfred Weneger postulou pela primeira vez o conceito de Deriva Continental. Esse conceito defende que no passado (há 300 milhões de anos) os continentes estavam agrupados em uma única massa de terra firme, um supercontinente chamado Pangea, que ao longo da história geológica foi se fragmentando e deslocando até adotar sua posição atual. Estes postulados, que então foram rejeitados praticamente por toda a comunidade científica internacional, representaram uma autêntica revolução e permitiram, já nos anos 60, o desenvolvimento de toda a Teoria Tectônica de Placas que explica, entre outros aspectos, a formação de montanhas ou a origem dos terremotos.
Josep María Parés, coordenador do Programa de Investigação de Geocronologia do CENIEH (Centro Nacional de Investigação sobre a Evolução Humana), explica a DiCYT a evolução destas teorias após 100 anos da exposição pública de Wegener de seus pensamentos sobre a Deriva Continental.
“Wegener realizou uma série de observações e formulou este conceito de dinamismo. Apesar das provas aportadas por sua Teoria, foi unanimemente rejeitada e, ainda que em 1915 tenha publicado uma obra chamada A origem dos continentes e oceanos, apenas poucos anos depois esta foi traduzida ao inglês, e assim mais difundida internacionalmente. Ainda assim esse conceito de que os continentes se deslocam ou navegam na superfície terrestre não foi aceito”.
Para postular esta Teoria Wegener focou-se, por exemplo, em algo que havia sido observado anteriormente, “o encaixe das linhas da costa dos dois lados do Atlântico”. “Pode-se dizer que é possível fechar o oceano e a costa leste do continente da América do Sul encaixa muito bem na costa oeste da África, ao mesmo tempo em que a parte mais setentrional da América do Norte encaixa razoavelmente na costa européia”. Do mesmo modo, afirma o especialista, Wegener explica com este conceito a distribuição de fósseis. “Naquele momento já eram conhecidos fósseis de répteis e plantas que estavam espalhados por distintos pontos do planeta, em continentes desconectados, e reconstruindo este supercontinente era possível explicar a distribuição de fósseis porque, simplesmente, faziam parte de uma única superfície continental”.
Por outro lado, a Deriva Continental revelava também o tema de províncias e depósitos geológicos, isso é, “o fato de encontrar hoje em dia relíquias glaciais em latitudes muito baixas, próximas do Trópico, o que pode ser explicado com o deslocamento dos continentes”.
Apesar de sua rejeição inicial, nos anos 40 e 50 a Teoria da Deriva Continental representou uma autêntica revolução. Nesses anos começou-se a pesquisar o fundo do oceano, que ocupa quase 70% da superfície terrestre e que era praticamente um desconhecido, afirma Parés, já que se acreditava que o fundo marinho estava formado por grandes superfícies lisas. “Com a exploração do fundo oceânico, devida principalmente a fins militares como o desenvolvimento de sensores para encontrar submarinos, observam-se duas coisas: que o fundo do oceano apresenta grandes cadeias montanhosas e que existem uma série de anomalias magnéticas no subsolo”. Assim, começa-se a postular a idéia de que o solo oceânico “está crescendo” e que foi desenvolvido “durante os últimos 180 milhões de anos”. A isso se une o paleomagnetismo, “o fato de que as rochas gravam o campo magnético do passado, aportando um sistema de referência, já que se comparamos duas massas rochosas, dois continentes que se deslocaram entre si, podemos quantificar seu movimento relativo através de um estudo paleomagnético”.
Em 1963 todos estes conceitos “aparentemente desconectados” se integraram em um único modelo, o da Teoria da Tectônica de Placas, baseado em que “a superfície terrestre é um conjunto de placas oceânicas continentais que se movem e esse movimento produz cadeias montanhosas, vulcões, terremotos, etc”, o que representou a culminação do conceito original da Deriva Continental.
Semana da Ciência 2012
Josep María Parés dará no dia 15 uma palestra no Museo da Evolução Humana (MEH) com o nome de Pangea: quando na Terra somente havia um continente, com motivo da Semana da Ciência 2012. Coordenador do programa de investigação em Geocronologia do CENIEH, Parés é doutor em Ciências Geológicas pela Universidade de Barcelona, na qual foi responsável pelo laboratório de Paleomagnetismo. Antes de incorporar-se ao Cenieh desenvolveu seu trabalho na equipe de pesquisa de Geologia da Universidade de Michigan. Está há mais de 25 anos na Equipe de Investigação de Atapuerca.
O programa de investigação em Geocronologia do CENIEH trabalha no desenvolvimento de métodos cronológicos para estabelecer a idade de jazidas arqueológicas e paleontológicas, fundamentalmente. Para tanto, explica seu responsável, utilizam distintas ferramentas como o paleomagnetismo, “o estudo do magnetismo fóssil em rochas e sedimentos”; técnicas baseadas em processos de queda radioativa de isótopos do urânio e tório; luminescência, “que se baseia no dano acumulado em grãos de quartzo depois de seu enterramento” e, finalmente, uma ferramenta que se baseia em um princípio físico semelhante ao da luminescência, que é a ressonância paramagnética eletrônica.
O ciclo de palestras termina na sexta-feira, dia 16, a cargo do doutor e professor da Universidade de Burgos, Ángel Carrancho, que falará sobre Fogo, ferros e imãs. Carrancho é especialista em Arqueomagnetismo, uma técnica de datação.