Nutrition Spain , León, Friday, July 23 of 2010, 12:02

Biólogo de León participa na descrição de três novas espécies de algas na África do Sul

As diatomáceas, encontradas geralmente em ambientes úmidos, são excepcionais ao adaptar-se a um ambiente árido, explica Saúl Blanco

Antonio Martín/DICYT Em lugares áridos, com escassas precipitações e distantes de ambientes aquáticos ou úmidos onde se desenvolvem, existem algumas espécies de microalgas, as diatomáceas, que são capazes de sobreviver. A lista agora se amplia com três novas espécies do gênero Microcostatus, descritas por uma equipe internacional na que participam pesquisadores sul-africanos, espanhóis e luxemburgueses. Estes microorganismos foram encontrados no Parque Nacional Kruger, uma extensa reserva natural repartida entre África do Sul, Moçambique e Zimbábue. A parte espanhola ficou a cargo de Saúl Blanco, pesquisador do Laboratório de Diatomologia da Universidade de León.

 

Os resultados da pesquisa foram publicados no número de Julho da revista Phycological Research, “uma das publicações mais importantes do setor”, como explica a DiCYT Saúl Blanco. As diatomáceas descritas foram denominadas Microscotatus schoemanii, Microscotatus cholnokyi e Microscotatus angloensis. Devido às distâncias que separam os diferentes grupos, os pesquisadores trabalharam com o sistema fordiano, em cadeia. A Universidade do Noroeste, da cidade de Potchefstroom (onde se alojou a seleção espanhola na última Copa do Mundo de futebol), realizou a amostragem. Estas amostras foram remitidas à Universidade de León, onde realizou-se a análise taxonômica e a catalogação. Finalmente, o Centre de Recherche Public Gabriel Lippmann de Luxemburgo determinou as características morfológicas dos microorganismos através de técnicas de microscopia eletrônica de barrido.

 

O Parque Nacional Kruger é uma extensa reserva de 20.000 km2 na qual podem ser encontrados alguns dos maiores mamíferos terrestres do planeta (girafas, rinocerontes, hipopótamos ou elefantes), leões e guepardos, antílopes e gnus, mais de 500 espécies de aves, cerca de 2.000 de plantas (como os imensos baobabs) e seis ecossistemas diferentes. É, em suma, um ambiente de grande riqueza natural. Em linhas gerais, “possui um clima subtropical árido semi-desértico”, explica o cientista de León, o que torna difícil o desenvolvimento de microalgas, exceto nas zonas úmidas que formam os rios que cruzam este vasto ambiente. “Por isso é tão peculiar encontrar diatomáceas ali, já que normalmente estes organismos associam-se à presença de água ou umidade”.

 

Na verdade, a existência destes microorganismos era conhecida cientificamente, mas em um momento da história a informação foi perdida. Durante a II Guerra Mundial, a devastação da disputa produziu perdas de grande número de importantes materiais científicos. “Foi o que aconteceu, por exemplo, com as coleções conservadas em Dresden, destruídas durante o bombardeio aliado”, recorda Saúl Blanco. Os cientistas rastrearam estudos científicos dos anos 30 e 40 do século passado e encontraram a pista destas peculiares algas de ambiente seco.

 

Coberta de dióxido de silício

 

Quando se encontraram de novo com elas, os cientistas descobriram a razão da adaptabilidade destas microalgas do gênero Microcostatus ao ambiente árido de Kruger. “Em sua morfologia existe uma estrutura exterior sílica que lhes permite viver nessas condições”, indica Saúl Blanco. Todas as diatomáceas, explica, dispõem de uma carapaça de dióxido de silício. Estas novas algas apresentam, no entanto, uma dupla camada deste mineral. Além da convencional, a forma exterior possui uma série de perfurações para permitir o intercâmbio de substâncias com o exterior. As perfurações estão cobertas com outra fila de dióxido de silício, formando uma espécie de redinha. “Existem somente 15 a 20 espécies que possuem esta adaptação a ambientes úmidos, cuja distribuição é subtropical e em alguns países europeus”, lembra o biólogo, que pertence à área de Ecologia do Departamento de Biodiversidade e Gestão Ambiental, na Universidade de León.

 

A estrutura de rede de silício permite a estes microorganismos “regular o intercâmbio de água”, o que lhes garante a sobrevivência em ambientes áridos e com precipitações muito baixas. A rede de silício permite captar a água e evitar a evaporação devido ao calor do clima do ambiente. Os pesquisadores suspeitam que esta microalga é “uma parte essencial na microflora dos solos poucos férteis” destes habitats e “pode constituir um elo fundamental na cadeia trófica” destes ambientes.

 

Os autores planejaram novas expedições para a realização de um inventário e a caracterização da população das microalgas descobertas, já que ainda é desconhecida a situação na qual se encontram e a importância das mesmas para seus ecossistemas. Com esta descoberta, Saúl Blanco soma quatro novas espécies de algas para a ciência, depois de citar pela primeira vez a existência de uma diatomácea denominada Eolimna becaresii na lagoa de Constanzana (província de Ávila).