Pesquisa-se o clima do passado na formação de estalactites e estalagmites
CGP/DICYT A pesquisadora do Projeto Atapuerca, Virgina Martínez Pillado, obteve a Ajuda Fundação Repsol da Fundação Atapuerca correspondente a 2013, com a qual poderá avançar no tema de sua tese doutoral: o estudo do clima do passado na formação dos denominados espeleotemas, as estalactites e estalagmites. A pesquisa, orientada por Arantza Aranburu, está sendo desenvolvida nas cavernas que formam o chamado Sistema Cárstico de Cueva Mayor. Conforme explica a pesquisadora, ao longo de milhões de anos “estas cavidades foram testemunhas da evolução do relevo e da paisagem exterior, conservando em seu interior pequenos vestígios do passado, como os espeleotemas”.
Segundo indica, à parte da beleza externa destas formações, tratam-se de “testemunhas mudas das transformações do nosso mundo”. “Se conseguirmos desenterrar sua história e compreender como se formaram, descobriremos que nos falam de tempos passados nos quais a Terra era diferente de como a conhecemos. Nos falam de tempos frios, glaciais e tormentas, e nos falam também de épocas cálidas e tropicais”, assegura. Ademais, agrega, também oferecem informação sobre outros humanos “com os quais conviveram há milhares de anos e que deixaram sua marca nelas”.
Assim, o trabalho da pesquisadora consiste “em aprender sua linguagem e traduzir suas palavras, revelando assim como era o clima em épocas remotas, nas quais nossos antepassados mais antigos habitavam a Serra de Atapuerca”. Esta disciplina, denominada paleoclimatologia, utiliza como “registros naturais” não somente os espeleotemas, mas também os núcleos de gelo dos glaciais, os anéis de crescimento das árvores, os corais ou registros de pólen fóssil.
Martínez Pillado afirma que a formação dos espeleotemas, estalactites e estalagmites geralmente ocorre no interior de cavernas de calcário que estão praticamente fechadas ao exterior. Cada uma de suas morfologias está ligada a um processo de formação diferente que dá uma idéia básica “de como seu crescimento se iniciou dentro da caverna”.
“Todas necessitam aportes de água do exterior para formar-se, água que recebem da chuva. As gostas de chuva, ao cair no solo, são filtradas pelas fendas e fissuras do terreno e coletam em dissolução diversos elementos e minerais (geralmente calcita e aragonita) até chegar à caverna. Nesta dissolução se produz um processo de desgaseificação das gotas pelo qual os minerais presentes cristalizam-se (ou melhor, precipitam-se). Com o passar do tempo, de poucos anos a centenas de milhares de anos, e de gota em gota, estes cristais crescem, formando os espeleotemas que conhecemos”, explica a pesquisadora no último número do Jornal de Atapuerca, ao qual teve acesso a DiCYT.
Neste sentido, afirma, a quantidade de minerais que a gota de chuva é capaz de dissolver ao passar pelo solo depende da cobertura vegetal existente sobre a caverna, bem como da temperatura, o que condiciona o tipo de cristal de cada camada. “Analisando cada etapa de cristalização dentro do espeleotema poderemos saber se no exterior havia um clima mais quente ou mais frio. Do mesmo modo, de acordo com a quantidade de chuvas existente neste período, observaremos uma diferente velocidade de crescimento dos cristais. Assim, se encontrarmos cristais de grande tamanho, concluiremos que chovia com maior freqüência do que se encontrarmos cristais menores”, agrega.
Análises de elementos químicos
Além do estudo destes cristais, é possível realizar uma análise dos elementos químicos que estavam presentes nas gotas de água “a partir dos isótopos estáveis de oxigênio e de carbono”, através dos quais é possível deduzir “a que temperatura se formaram os cristais”. “Como a temperatura no interior de uma caverna é igual à temperatura média do exterior, o estudo isotópico dos espeleotemas nos informa as características do clima em épocas remotas”, afirma.
Finalmente, com relação à localização de todos estes resultados no tempo, a pesquisadora indica que dispõem de uma ferramenta de datação “de grande precisão”, um método de desintegração radioativa do urânio. “Os átomos de urânio com o tempo se descompõem e se convertem em outros isótopos e em átomos “filhos” de tório, de modo que podemos relacionar cada etapa do crescimento, sua química correspondente e, portanto, cada pequena variação climática, com uma idade muito concreta”, conclui.
Com relação à obtenção da Ajuda Fundação Repsol da Fundação Atapuerca, Martínez Pillado assegura que contar com uma bolsa ou um contrato de pesquisa atualmente “é uma vantagem ao alcance de muitos poucos, porque se investe muito pouco em Ciência no país”.