Pesquisadores espanhóis e brasileiros demonstram o papel do óxido nítrico no trauma muscular
AMR/DICYT O Instituto de Biomedicina da Universidade de León (Ibiomed) e o Hospital das Clínicas de Porto Alegre (Brasil) colaboram há alguns anos no estudo de processos inflamatórios e oxidantes em distintas situações patológicas. Concretamente, os pesquisadores procuram esclarecer o papel do óxido nítrico, uma molécula que exerce uma série de importantes funções fisiológicas, mas cuja ação nos músculos estriados é desconhecida. Uma recente pesquisa revelou seu papel. O óxido nítrico é necessário para reparar a lesão muscular e seu aumento contribui à redução da fibrose.
As lesões traumáticas são processos freqüentes nos músculos. Esses traumas podem ter repercussões negativas prolongadas sobre a capacidade funcional destes tecidos, explicam a DiCYT os especialistas do Ibiomed. Após a lesão, o músculo desenvolve um processo de cicatrização com uma fase inflamatória, seguida da regeneração ou fibrose (formação em excesso do tecido conectivo fibroso). Os mecanismos responsáveis pelo controle dessa seqüência não são bem conhecidos e esclarecê-los, por tanto, é importante para poder melhorar a recuperação do músculo. Entre os mediadores implicados encontra-se o óxido nítrico, que tem capacidade pró-inflamatória graças à produção de umas substâncias graxas denominadas prostaglandinas.
O experimento
O trabalho conjunto entre o instituto de León e o hospital porto-alegrense (da capital do Estado do Rio Grande do Sul, extremo sul do Brasil) empregou um modelo experimental de dano baseado na lesão traumática controlada das panturrilhas (tecnicamente, gastrocnêmios) em camundongos. Os resultados serão publicados em breve na revista Inflammation Research. No modelo experimental empregado, para identificar o papel do óxido nítrico (cuja formula química é NO), um grupo de animais recebeu na água um inibidor de sua síntese. Os dados obtidos indicam que o trauma muscular originava um incremento marcado na produção de radicais livres e de estresse oxidativo originado por eles mesmos.
A expressão da enzima responsável pela síntese do óxido nítrico, chamada iNOS, aumentava devido a esse efeito paralelamente à ativação do fator de transcrição kappa B. Quando os animais tinham sido previamente tratados com o inibidor da síntese do óxido em estudo, reduzia-se a expressão da iNOS e os marcadores do processo inflamatório-oxidativo diminuíam. No entanto, ao mesmo tempo aumentava a expressão de um mediador chamado TGF-beta, que se traduzia em depósitos de colágeno e no desenvolvimento da fibrose.
Conclusões
De acordo com os autores espanhóis do estudo, Elena Lima, María José Cuevas e Javier González Gallego, esta descoberta revela que “o óxido nítrico é necessário para a reparação da lesão muscular” e que “o aumento na quantidade do mesmo contribui de maneira importante à redução da fibrose e a uma melhor recuperação após o dano tissular”. Os resultados têm “implicações terapêuticas evidentes”, porque, segundo explicam, um melhor conhecimento dos mediadores do processo de recuperação pode auxiliar na adequada recuperação funcional do músculo.