Nutrition Spain , León, Monday, May 02 of 2011, 14:46

Pesquisadores de León localizam pela primeira vez na Europa um pulgão do Extremo Oriente em Madri

Imigraram ao continente nos últimos séculos centenas de espécies exóticas que antes não habitavam estes lugares

Antonio Martín/DICYT Por ano os cientistas detectam ao menos uma nova espécie de pulgões na Espanha, procedentes de outras latitudes e considerados, portanto, exóticos. A última espécie de afídio, como são tecnicamente conhecidos, foi encontrada nas proximidades de Madri, pela fotografia de um amador, e identificada pelos cientistas da Universidade de León. A espécie, denominada Schizaphis piricola, é originária do Extremo Oriente (Japão, península da Coréia e ilha de Taiwan), e é a primeira vez que é detectada na Europa. Schizaphis piricola é a ultima pedra do rosário de espécies exóticas de pulgões que chegaram ao continente. Nos últimos dois séculos entraram centenas de novas espécies.

 

O alerta da presença destes pulgões foi publicado no último numero da revista ZooKeys. Seus autores são os pesquisadores do grupo de afídios da Área de Zoologia do Departamento de Biodiversidade e Gestão Ambiental da Universidade de León: Nicolás Pérez Hidalgo e Pilar Mier, e o fotógrafo Umaran. No artigo os autores informam que a espécie de afídio Schizaphis piricola foi detectada em uma pereira ornamental da espécie Pyrus calleryana em Madri, oferecem dados sobre a morfologia das formas do hospedeiro primário (a pereira), sua biologia e distribuição, e atualizam as chaves para identificar espécies do gênero Schizaphis na Península Ibérica.

 

“Trata-se de uma espécie perfeitamente adaptada a nossas latitudes, ao menos em seu hospedeiro primário, a pereira, e com segurança completa seu ciclo biológico em hospedeiros secundários dos gêneros Carex e Cyperus, associados a cursos de água”, explica a DiCYT Nicolás Pérez Hidalgo. Ocorre que a pereira onde foi encontrado o pulgão tampouco é própria da Europa. “Muita flora ornamental empregada em nossos parques e jardins não é exclusiva daqui, diante do que em seu transporte e comercialização podem trazer colônias de pulgões e outros fitófagos que por seu tamanho não são detectáveis. Ademais, estes mesmos afídios podem ser transportados como ovos de resistência”. A globalização do mercado mundial e o uso de plantas decorativas de lugares exóticos são as causas principais do “gotejamento incessante” de novas espécies de pulgões à Europa.

 

Pouco se sabe até agora sobre a Schizaphis piricola e sua repercussão em cultivos produtivos. Os pesquisadores limitaram-se a identificar a nova espécie na Europa, descrever sua biologia e avisar, em suma, sua presença. “É o único trabalho que podemos fazer, alertar sobre sua presença, enquanto não atinjam plantas de interesse econômico ou produzam danos de importância que demandem outros estudos”, indica Pérez Hidalgo. O acompanhamento e controle de espécies exóticas de pulgões é praticamente impossível na Espanha, e somente se realiza se convertido em praga, adverte o especialista. Outra vertente não menos importante na descoberta foi a sinergia estabelecida entre amantes da fotografia de insetos e os pesquisadores. Foram precisamente fotografias do pulgão realizadas por Ángel Umaran (colaborador habitual do grupo de afídiologia) postadas na página web Plataforma Biodiversidade Virtuais que permitiram conhecer a existência desta espécie nas proximidades de Barajas, Torrejoz de Ardón e da estação de trens de Villa de Vallecas.

 

Situação geral

 

Existem cerca de 4.700 espécies diferentes de pulgões no planeta, das quais um terço vive na Europa. Estes insetos são parasitas de plantas angiospermas, uma divisão vegetal da qual procede a maior parte dos alimentos consumidos pelo homem, bem como muitas matérias primas e produtos naturais. Um grupo internacional de entomólogos, dentre os quais se encontra o pesquisador da Universidade de León Nicolás Pérez Hidalgo, elaborou a primeira lista completa de afídios exóticos na Europa que foi publicada em um número especial de BioRisk sobre artrópodes que imigram a Europa. Nela constatou-se que nos dois últimos séculos chegaram 102 pulgões de outras latitudes ao continente.

 

Os pesquisadores, que fazem parte do Instituto Nacional para a Investigação Agronômica (INRA) de Montferrier-sur-Lez (França) e das Universidades de León e Blegrado, advertem na publicação que “este padrão pode mudar nos próximos anos”. Há vários fatores que permitem pensar que a presença de pulgões exóticos pode aumentar no futuro: a maior parte dos pulgões vive em zonas climáticas similares às européias, o aquecimento global provavelmente propiciará um deslocamento daquelas espécies que habitam zonas tropicais ou subtropicais à bacia mediterrânea e, finalmente, estes insetos são facilmente transportáveis no comércio mundial de plantas. Segundo a recontagem realizada, os países mais afetados são Reino Unido, França continental, Itália continental e Espanha continental, esta última com 56 novas espécies em seu território.

 

Nem todos os afídios que imigram à Europa afetam a agricultura, ainda que alguns possam resultar especialmente daninhos. Pérez Hidalgo cita como exemplo dois casos de afídios considerados invasores que podem ser um problema. O mais grave deles é o caso do Toxoptera citricidus (ou Toxoptera citricida, “assassino de cítricos”, em latim), de origem tropical e subtropical que ataca a cítricos e que alcançaram o norte de Portugal e a cornija Cantábrica. O especialista indica que é uma importante espécie de praga não só por sua ação direta, mas pela capacidade de transmitir importantes vírus a cítricos e lembra que o controle realizado no norte peninsular indica que “não foi possível superar a barreira representada pelo planalto em seu caminho às zonas produtoras do sul da península”.