Social Sciences Spain , Valladolid, Tuesday, May 05 of 2015, 15:25
INESPO II

Investigação analisa as estratégias discursivas na comunicação crises sanitárias

A tese de doutoramento de Javier Nespereira, investigador da Universidade de Valladolid, é um estudo de caso sobre a pandemia de gripe A de 2009

Cristina G. Pedraz/DICYT Doutor Javier Nespereira, investigador do Departamento de Literatura Espanhola e Teoria da Literatura da Universidade de Valladolid (UVA), tem desenvolvido nos últimos anos uma pesquisa sobre estratégias discursivas na comunicação crises sanitárias, tendo como estudo de caso a pandemia de gripe A de 2009.


O trabalho, que compendiou na sua tese de doutoramento, defendida em julho do ano passado, tinha como objetivo testar a utilidade da retórica e da teoria da argumentação, tal como foram reformuladas e atualizadas nos últimos 50 anos, para a análise crítica da comunicação de riscos sanitários, além de tentar fornecer ferramentas para uma comunicação mais eficaz.


Licenciado em Veterinária, depois de dez anos de experiência laboral em vários campos, Nespereira decidiu aumentar a sua formação em comunicação e linguagem. Cursou um segundo ciclo de Teoria da Literatura e Literatura Comparada e, a seguir, o Programa de Doutoramento na Área de Jornalismo da UVA, para começar a investigação neste domínio.


Tal como relata o investigador, nas últimas décadas um número crescente de disciplinas diferentes tem investigado e feito estudos separadamente sobre as “narrativas do risco”, especialmente os riscos epidémicos, como VIH/SIDA, a Síndrome Respiratória Aguda Grave (abreviada SARS, do inglês Severe Acute Respiratory Syndrome) e a gripe aviária; além da argumentação nos relatórios científicos sobre doenças emergentes, em que o conhecimento científico ainda é reduzido ou nulo, como as encefalopatias espongiformes dos finais dos anos 90. A comunidade científica também tem abordado os processos de construção da confiança social, em um momento histórico de crise de confiança nas instituições públicas, tanto nas políticas como nas científico-sanitárias.


Portanto, o objetivo final do trabalho de Nespereira foi combinar essas contribuições com a retórica como base. Por um lado, a tese analisa “os erros e acertos cometidos na comunicação de riscos de saúde e crises sanitárias do ponto de vista do impacto desta comunicação sobre os destinatários: estilos de vida mais saudáveis, medidas de prevenção, disposição para executar determinadas ações em situações de emergência sanitária, etc.”.


Por outro lado, pretende colaborar no melhoramento da comunicação dos riscos sanitários. Em primeiro lugar, no caso de riscos conhecidos e pouco controversos “construindo as narrativas mais eficazes para as instituições sanitárias serem coerentes e convincentes e obterem o seu propósito, por exemplo, na adoção de hábitos saudáveis ou medidas preventivas”.


Em segundo lugar, no caso de riscos que se destacam pela incerteza ou pela falta de conhecimento específico ou naqueles cuja definição e medidas para contrastá-los são problemáticas, o investigador explica que “a retórica e argumentação proporciona as ferramentas certas para os processos de participação deliberativa entre as instituições, as partes interessadas e a opinião pública”.


“Estes processos de participação deliberativa e uma comunicação adequada são a chave para governar o risco na sociedade de hoje, como argumentam muitos dos atuais modelos de estrutura para avaliação e gestão do risco” afirma.


Discursos de identidade


Nos últimos anos têm surgido na cena pública doenças infecciosas emergentes, como o ébola, e outras questões controversas, como os organismos geneticamente modificados (OGM), caraterizados pela incerteza e ambiguidade. A construção social desses riscos no debate público, especificamente, nos discursos de todos os agentes envolvidos neste processo (científicos, políticos, sociais e ainda culturais, caso da ficção), concentra atualmente o trabalho do investigador.


“Estou particularmente interessado no conceito da identificação do público com o discurso que recebe e com quem o emite. Trata-se de uma ideia chave para entender o conceito clássico da persuasão retórica e, no caso da comunicação de risco sanitário, chave também para entender como se constrói a confiança nas instituições científicas, além da procura de argumentos e narrativas acreditáveis”, explica.


Atualmente, os seus estudos aprofundam a comunicação de doenças infecciosas, emergentes ou re-emergentes, uma área para a qual organizações internacionais como a Organização Mundial de Saúde (OMS) ou a Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) estão a dedicar hoje “esforços crescentes”.


Em particular, analisa a crise do ébola na Espanha e “o conflito do discurso das autoridades sanitárias e seus protocolos de atuação face à opinião de outros cientistas e profissionais como o órgão colegial de Enfermagem ou algumas associações independentes de veterinários”, conclui.